Não é novidade o engajamento da Globo quando o assunto é Copa do Mundo. A cobertura do canal é sempre intensa e ufanista: os jogadores da Seleção Brasileira são sempre os heróis da nação.
Há uma tentativa de agendamento para que os brasileiros se envolvam com o evento, torçam, se emocionem e vivam exclusivamente para ele. Mais nada importa: só a Copa.
O último mundial, realizado no Brasil, em 2014, foi bastante explorado pela Rede Globo, sobretudo pelo fato do evento acontecer no nosso país. Como pode ser visto no site da emissora, os preparativos para a Copa começaram em abril de 2014 com o programa Rumo à Copa, que trazia dados sobre os mundiais. Em maio, estreou, no Jornal Nacional, a série “Perfis”, que conta a história de vida de cada jogador convocado. Além disso, os programas globais ganharam pautas e quadros sobre o evento.
Essa programação surtia efeito na agenda dos brasileiros sem muitos esforços, tendo em vista o próprio elo construído social e culturalmente entre o Brasil e o futebol e pelo fato do país ter sediado o evento, o que, por si só, garantia o agendamento no cotidiano do brasileiro.
Mas muita coisa mudou na nossa cabeça. Seja pelo 7×1 e/ou pelo momento político e social que o país vive, não se tem visto mais essa grande emoção com o futebol.
A um dia da estreia da seleção canarinho na Copa do Mundo na Rússia, o clima em nada se parece com os já vistos em 2010, 2006, 2002… Não vamos considerar o ano de 2014 porque, como já mencionado, o Brasil foi o país-sede e, por isso, o clima e a adesão do brasileiro ao evento foram e são incomparáveis.
A Globo, sabendo dessa nova realidade, tem utilizado estratégias a fim de que os telespectadores voltem a se interessar pelo futebol, pela Copa e que consumam a imagem criada pela emissora. Além das habituais narrativas e coberturas, foi necessário acrescentar ingredientes a mais para chamar a atenção do telespectador para o mundial na Rússia.
A Globo, sabendo dessa nova realidade, tem utilizado estratégias a fim de que os telespectadores voltem a se interessar pelo futebol, pela Copa e que consumam a imagem criada pela emissora.
No final de março desse ano, começou a ser exibido aos sábados, no intervalo da novela das 21h, o Meu Lance na Copa. O programa, exibido em 12 episódios, apresentou depoimentos de ex-jogadores sobre momentos marcantes que esses tiveram nos mundiais em que jogaram. E aos domingos, dentro do Esporte Espetacular, o especial ganhou versão estendida.
Não queremos destacar a narrativa emotiva, pois essa já é usual nos produtos da Rede Globo. O destaque aqui vai para a exibição do especial no intervalo da novela. Em um momento em que se vê a diminuição do interesse nacional pelo futebol, o programa não visa atingir a um público alvo específico, mas sim a todos os brasileiros, que como tais, têm a “obrigação” – como é instituído pela emissora – de se envolver com a Seleção Brasileira na busca pelo hexa.
Em maio, estreou no horário que era destinado ao extinto Estrelas o especial As Matrioskas. Tendo o formato parecido com o seu antecessor, contendo visitas a lugares e bate-papo com os convidados, o programa, que teve como apresentadora a jornalista Glenda Kozlowski, levou as mães de três jogadores da seleção para conhecer a Rússia e falar dos filhos – os heróis brasileiros.
O especial foi exibido em 5 sábados (apenas o sexto – e último – foi exibido na quarta, dia 13, no horário do Vídeo Show) em um formato que o telespectador já era habituado. Assim, a grade não sofreu grandes alterações e o tema “Copa do Mundo” foi agendado de forma sutil, disfarçado de cultura, história e turismo russo. Além disso, diferentemente do tradicional, as mães é que foram o destaque, e não os jogadores em si, o que se tornou algo mais emotivo e subjetivo.
Já nos dias que antecederam a abertura do evento, dois dos quadros especiais exibidos pelo Esporte Espetacular foram compilados e ganharam lugar na programação: o Meu Lance na Copa – já mencionado – foi ao ar, no dia 13, após o Conversa com Bial, e o Vozes, exibido após o Fantástico no dia 10, que mostrou as versões dos narradores de algum jogo que tenha sido marcante para eles.
Galvão Bueno destacou como especial o jogo da final da Copa de 1994, entre Brasil e Itália, no qual o seu “Acabou, acabou. É tetra, é tetra” virou uma célebre frase. A Globo pretendeu com isso despertar a nostalgia no telespectador e lembrá-lo das glórias do futebol brasileiro na tentativa de romper com a lembrança do vexame de 2014.
Há ainda os já tradicionais perfis dos jogadores no Jornal Nacional, a Central da Copa e as entradas ao vivo dos repórteres direto da Rússia durante toda a programação.
Além das já conhecidas narrativas heroicas e das coberturas massivas, a Globo teve um trabalho diferente nesse ano: ressuscitar o típico brasileiro apaixonado por futebol.
Mesmo aparentemente sem grandes êxitos, pois o Brasil – se comparado às outras edições que aconteceram em outros países – permanece inerte a um dos maiores eventos esportivos do mundo, a Globo continuará tentando reverter o quadro com as suas produções e coberturas.
Pode ser que a partir do primeiro jogo da seleção, que será amanhã, o quadro mude. Mas, enquanto isso, o brasileiro parece não estar dando atenção à tentativa de agendamento da televisão.