De quatro em quatro anos, o Brasil inteiro se vê às voltas com aquela dizer do futebol ser a “paixão nacional”. Não é para menos. As ruas estão pintadas de verde e amarelo, os bares lotam e os preços de uma televisão do último modelo ficam bem mais aprazíveis. É mais uma edição da Copa do Mundo se iniciando e, nela, uma oportunidade de se fazer dinheiro. Com as emissoras de televisão, não seria diferente… Nessa época, geralmente investem em novos formatos, principalmente no que tange a programas esportivos. Na Copa anterior, programas como Extra Ordinários, da SporTV, e Central da Copa, da Globo, conseguiram obter sucesso e pareciam ditar qual seria a tendência dos programas do gênero para os próximos anos.
Claro, não seria a primeira vez que jornalismo e uma narrativa desindexada (às vezes, descambando para o humor) estaria em voga. Quem não se lembra do RockGol, da MTV Brasil? Misturando humor, entretenimento e entrevistas, o factual passava longe e quando chegava ali, era tratado com um tradicional deboche (e isso nos anos 2000, diga-se de passagem). No mesmo período, agora lidando com um público mais conservador, o Esporte Total Na Geral, com Beto Hora, apostava na mesma narrativa em um formato diário. O fracasso foi iminente.
Em uma era da televisão em que até mesmo William Bonner, apresentador do telejornal mais relevante do país, grita Taffarel a plenos pulmões, e Ricardo Boechat encerra o Jornal da Band usando uma peruca, estariam os programas esportivos fugindo das ‘novas regras de mercado’?
Com a chegada de Tiago Leifert ao Globo Esporte, o brasileiro foi se adaptando melhor à ideia – apesar de ter apresentado uma certa resistência inicial e de algumas brincadeiras não terem sido tão bem recebidas (como a vez em que o jogador Valdivia foi tirar satisfações com o apresentador). Logo, novas investidas foram surgindo. É curioso quando paramos pra pensar que, no rádio e na televisão do exterior, essa narrativa faz muito sucesso, mas na televisão brasileira ainda encontra resistência.
Tanto que o SBT, em 2014, resolveu se aventurar no mercado esportivo com o Arena SBT. Silvio Santos, que ama um formato importado, se inspirou no Titulares y Más, da americana Telemundo, para formar sua versão que contava com o jornalista Smigol, o ex-jogador Edmilson e as pratas da casa Alexandre Porpetonne e Lívia Andrade. Exibido nos sábados à noite, o programa naufragou em questão de meses. Mas no caso da emissora do Anhanguera, talvez o encerramento seja justamente a falta de investimento em programas do gênero.
Entretanto, gera estranheza quando a Band – que antes da TV por assinatura chegar ao Brasil ficou conhecida como “o canal do esporte” e que até 2015 exibia normalmente o Campeonato Brasileiro – cria um Show do Esporte com a mesma fórmula dos anteriores e, para se manter no ar, retoma a fórmula que consagrou Milton Neves na apresentação do Terceiro Tempo. O cenário oneroso dá lugar a um chroma key, os muitos componentes do elenco substituem comentaristas escolhidos a dedo. Apenas a discussão continua, dessa vez, sem plateia.
Afinal de contas: o que a pessoa que consome programas esportivos quer? Em uma era da televisão em que até mesmo William Bonner, apresentador do telejornal mais relevante do país, grita Taffarel a plenos pulmões, e Ricardo Boechat encerra o Jornal da Band usando uma peruca, estariam os programas esportivos fugindo das “novas regras de mercado”? Será que esse é um telespectador que está interessado no noticiário e na performance do seu time? Ou é tudo uma questão de química entre os seus integrantes? Fato é que a TV aberta ainda vai ter que arranhar muito a superfície para achar seu denominador comum.