Após as críticas que a sabatina com os presidenciáveis do Jornal Nacional sofreu, entre os dias 18 a 22 de setembro (segunda a sexta-feira), o Jornal da Globo realizou uma série de entrevistas com os candidatos à presidência do Brasil que lideram as pesquisas, realizadas pela jornalista Renata Lo Prete, âncora do programa.
Quatro candidatos à Presidência foram entrevistados, em ordem definida por sorteio: Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Fernando Haddad (PT) e Marina Silva (Rede) – veja análises e o conteúdo das entrevistas aqui. Não houve entrevistas na quinta-feira (21), a pedido dos candidatos, por motivos de agenda. O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, não participou da série porque se encontra internado em São Paulo, em recuperação após ser atacado em Juiz de Fora (MG).
No Jornal Nacional, as entrevistas tiveram um tom de confronto e abordaram as polêmicas das candidaturas. Com tempo de duração médio de 27 minutos, as entrevistas do JN, realizadas ao vivo, tinham por objetivo, de acordo com o âncora William Bonner, abordar os temas “que marcam cada uma das candidaturas. Nós questionamos assuntos polêmicos, tratamos da viabilidade de alguns pontos dos programas de governo”.
No entanto, os apresentadores foram acusados de fazerem inúmeras interrupções e perguntas muito longas – tomando longos minutos que deveriam ser destinados à manifestação dos candidatos. Apesar dos telespectador es até terem gostado de algumas tiradas dos apresentadores, reconheceram e constataram que o conteúdo foi bem abaixo do esperado: os embates divertiram de certa forma, mas pouco informaram ou trouxeram algo de relevante (em termos de conteúdo sobre governabilidade) ao eleitor.
Já nas entrevistas realizadas pelo Jornal da Globo, que foram gravadas e tiveram a duração de meia hora (30 minutos), Renata Lo Prete mostrou uma postura bem diferente da adotada por William Bonner e Renata Vasconcelos. A âncora do Jornal da Globo conduziu as entrevistas com postura firme, aumentando o rendimento das respostas e deixando os candidatos se expressarem com mais tempo e objetividade. Claro que as conversas tiveram muitos momentos tensos, mas a jornalista soube contornar as situações com elegância.
No Jornal da Globo, o foco foi nas propostas dos candidatos e questões sobre suas carreiras na política. A âncora não pontuou, antes da entrevista ir ao ar, quais assuntos seriam abordados. O ponto pode soar sem relevância, mas ao analisarmos ambos os jornais, fica evidente que, ao definir o tom da entrevista, o JN deu a entender que deixaria mesmo as propostas em segundo plano. É importante ressaltar que, em ambos os jornais, a postura adotada foi a mesma com todos os políticos.
Em ano de eleição, entrevistas com candidatos a cargos públicos são comuns em jornais de todas as emissoras. Esse tipo de conteúdo é um serviço necessário prestado ao eleitor de maneira democrática. Os veículos dão voz, de forma apartidária, aos que almejam, por exemplo, à Presidência da República. E em televisão, é sabida a necessidade de adequar os conteúdos e linguagens ao público-alvo de cada programa.
As abordagens de ambos os programas acabam se complementando de certa maneira, porém, devido ao tamanho dos programas de governo de cada candidato, era possível sim ambos os jornais tratarem mais sobre as propostas, sem repetir assuntos.
O Jornal Nacional vai ao ar no horário de maior audiência na televisão, por isso é considerado o “maior jornal da casa” da Rede Globo. Atinge, portanto, o público de massa, que possui pouca familiaridade com assuntos técnicos. Já o Jornal da Globo é voltado para um público que compreende de forma mais aprofundada o universo político – a presença de especialistas políticos e econômicos é constante no jornal e a própria Renata Lo Prete é reconhecida por suas opiniões políticas na GloboNews.
Tendo isso em vista, é possível afirmar que o que foi apresentado no Jornal Nacional configurou um embate em que os jornalistas tentavam desconstruir candidatos, buscando fazê-los se contradizer, ao invés de uma conversa do que seria feito nos quatro anos de mandato. No Jornal da Globo, a abordagem foi mais voltada às propostas, principalmente às questões econômicas, afinal este é um dos problemas mais urgentes para ser tratado pelo próximo representante.
Ao questionar assuntos polêmicos, o JN teve como objetivo atingir seu público, mas prestou um desserviço ao não abordar as propostas de campanha, item que deve ser considerado pelo eleitorado um dos principais critérios de avaliação. Já no Jornal da Globo, as perguntas mais objetivas possibilitaram aos candidatos respostas com termos técnicos, demonstrando se dominavam ou não tal assunto.
As abordagens do JN e JG foram opostas, mas qual seria a necessidade de entrevistas com presidenciáveis num espaço tão curto de tempo se não fosse para tratá-las de formas diferentes? E qual será a porcentagem de eleitores que assistiram a ambas as entrevistas? Elas acabam se complementando de certa maneira, porém, devido ao tamanho dos programas de governo de cada candidato, era possível sim ambos os jornais tratarem mais sobre as propostas, sem repetir assuntos. Para formar um opinião concreta e certeira, o eleitor precisa estar munido de informações completas e relevantes.