A atual novela das seis da Globo está em plena reta final, e já citamos anteriormente que uma das muitas qualidades da trama de Alessandro Marson e Thereza Falcão foi a mescla de ficção com fatos históricos, afinal, Novo Mundo tem como enredo central uma importante passagem da história do país. E nesta última quinta-feira, dia 7 de setembro, foi ao ar um dos momentos mais aguardados: a declaração da Independência do Brasil (veja aqui).
E vale citar que foi um acerto dos escritores exibir a cena justamente no dia que realmente aconteceu o fato, em pleno feriado. A coincidência calculada deixou o grito de Dom Pedro (Caio Castro) ainda mais arrepiante, conseguindo cercar esse momento emblemático com todo o clima necessário. A trama apresenta bastante liberdade poética e os próprios autores já alegaram em entrevista que, antes de qualquer coisa, o folhetim é uma obra de ficção. Entretanto, o capítulo recebeu um tratamento cuidadoso da dupla, que tentou ser fiel ao que aconteceu há 195 anos.
Outro ponto que merece aplausos foi a escolha dos autores de fugirem do clichê da imagem que sempre representou a independência do Brasil: o quadro “Independência ou Morte”, pintado por Pedro Américo, em 1888, e hoje guardado no Museu do Ipiranga. Segundo a historiadora Daniela Landini, em entrevista ao Blog do Mauricio Stycer, a cena foi inspirada em outro quadro, “A proclamação da Independência”, pintado em 1844 por François-René Moreaux, em exibição no Museu Imperial, na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Por muito tempo, a obra do pintor Pedro Américo foi tida como uma reprodução fiel dos fatos de 1822, principalmente pela importância que a obra ganhou nos livros de história: Dom Pedro vestido com o uniforme de gala, montado num imponente cavalo e cercado pela comitiva de guardas reais, empunha sua espada no alto da colina e proclama a independência do Brasil. Já na obra do francês François-René Moreaux, a presença de um personagem marca a maior diferença entre as duas obras: o povo. O país havia passado recentemente por rebeliões que contestavam o poder e a ideia era criar a imagem de uma monarquia apoiada pela população.
Outro fato que difere a cena da novela da famosa obra é que o Imperador não estava montado em um elegante cavalo quando declarou o Brasil livre de Portugal, ao contrário: ele chegou à colina do Ipiranga carregado por uma mula. Segundo Laurentino Gomes, no livro 1822, mulas eram a melhor opção para subir a perigosa Serra do Mar. “Era esta a forma correta e segura de subir a serra do Mar naquela época de caminhos íngremes, enlameados e esburacados. Foi, portanto, como um simples tropeiro, coberto pela lama e a poeira do caminho, às voltas com as dificuldades naturais do corpo e de seu tempo, que D. Pedro proclamou a Independência do Brasil.”
Vale observar que foi realmente Leopoldina que assinou a Independência. É um fato histórico.
Agora, mais a fato de curiosidade, no capítulo do dia 4 de setembro (veja aqui), enquanto viajava pelo interior de São Paulo, Dom Pedro reatou com a amante Domitila (Agatha Moreira). Na verdade, quando proclamou a Independência, realmente Dom Pedro estava apaixonado por Domitila de Castro Canto e Melo, que – pasmem os espectadores de Novo Mundo que estão acostumados a ver a personagem há meses – ele havia acabado de conhecer.
E já que citamos a amante de Dom Pedro, não podemos deixar de citar a participação de Leopoldina. A Imperatriz do Brasil finalmente ganhou o merecido crédito pela Independência do Brasil. Na sequência que foi ao ar no capítulo de quarta-feira (06/09), a personagem ignorou as ameaças da Corte Portuguesa e assinou a separação do Brasil de Portugal. Nomeada princesa regente pelo marido, a respeitável mulher reuniu os ministros e, com o apoio deles e de José Bonifácio (Felipe Camargo), tomou a decisão mais importante da história do país. “A partir desse instante, está aprovada a separação definitiva e absoluta do Brasil, de Portugal”, anuncia a Leopoldina de Letícia Colin, depois de assinar o documento que declara o Brasil livre (veja aqui).
Vale observar que foi realmente Leopoldina que assinou a Independência. É um fato histórico. Mas, infelizmente, poucos dão importância e nem há um grande enfoque nos livros sobre isso, priorizando o grito de Dom Pedro. Ao portal Gshow, Letícia Colin comenta sobre a importância da cena: “Estamos falando tanto do empoderamento feminino. Foi essa mulher, minha musa inspiradora, que assumiu como princesa interina, governou o país de forma incorruptível e fez uma movimentação com sabedoria e diplomacia”.
A novela está chegando ao fim e vai deixar saudades. Com certeza, o dia 7 de setembro de 2017 vai entrar para a história da teledramaturgia brasileira.