A carreira internacional de José Padilha anda claudicando. Embora não seja um diretor desprovido de qualidades, os projetos que chegam às suas mãos deixam um tanto a desejar. Em 2014, dirigiu um desnecessário remake do clássico Robocop, de Paul Verhoeven, que naufragou nas bilheterias, e agora faz uma nova tentativa de firmar-se em Hollywood com 7 Dias em Entebbe.
O filme, apenas razoável, reconstitui o episódio verídico em que uma guerrilha pró-Palestina sequestrou um avião cheio de israelenses, em 1976, para negociar a liberação de presos políticos. O diretor de Tropa de Elite e da série O Mecanismo tenta nos fazer acreditar que parte de uma premissa ousada: não houve heróis ou vilões. Se consegue, no fim das contas, já é outro caso.
Na tentativa de manter um distanciamento crítico, e não se colocar inteiramente ao lado de Israel ou da Palestina, Padilha busca, em princípio, uma certa frieza documental. O roteiro – repleto de datas, letreiros e tomadas de decisões sem grande apelo dramático – tem um caráter quase documental. Os fatos se sucedem sobre a tela sem excessos: o sequestro ocorre, o governo israelense não reage em um primeiro momento, surgem conflitos entre os sequestradores, desenha-se um plano de resgate. Nada espetacular. Tudo contido. E isso é até interessante.
O problema é que há uma fragilidade comprometedora na construção dos personagens que conduzem a narrativa.
O problema é que há uma fragilidade comprometedora na construção dos personagens que conduzem a narrativa. Wilfried Böse (Daniel Brühl, de Adeus Lênin) e Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike, de Garota Exemplar), que militam a favor dos palestinos, são muitos rasos. Assim como o ministro israelense Shimon Peres (Eddie Marsen, de Atômica). Eles parecem existir na trama de 7 Dias em Entebbe apenas como peças em um tabuleiro, jogadores que não parecem ter vida própria fora do conflito em que estão inseridos. As poucas tentativas de lhes emprestar alguma complexidade são desastrosas. O roteiro de Gregory Burke é bem falho nesse aspecto, tanto que nenhum passageiro, tripulante ou sequestrador consegue destacar-se na narrativa. Estão lá, na tela, sem qualquer tridimensionalidade.
Padilha ensaia maior ousadia quando insere na narrativa um espetáculo de dança contemporânea criado por Ohad Naharin, já retratado pelo documentário Gaga – O Amor pela Dança, como metáfora dos conflitos vivenciados por Israel. A boa montagem de Daniel Rezende insere a apresentação na ação do filme, traçando um paralelo entre a vitória dos soldados judeus e o desempenho esplêndido dos dançarinos. Não é difícil compreender, daí, que a imparcialidade de Padilha era só jogo de cena, um mero artifício na construção do enredo. Ainda assim, é o que o filme tem de mais ousado.
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