A Recompensa começa com um monólogo do protagonista vangloriando-se do próprio pênis. Ele fala diretamente para a câmera, com fervor, com um entusiasmo que facilmente faz lembrar grandes peças shakespearianas. Somente esse início já é um forte sinal de que A Recompensa não é um filme qualquer. Ou, dito de outra forma: somente esse começo já é um forte indício de que A Recompensa não é um filme com um protagonista qualquer. Ele é Dom Hemingway, interpretado magistralmente por Jude Law. Dom Hemingway, inclusive, é o título original desta obra dirigida por Richard Shepard.
Difícil não recordar-se do filme por seu título original e ignorar a “tradução” brasileira, tamanho é o espaço dado ao protagonista, tamanha é a entrega do ator ao papel. O personagem central é um anti-herói muito mais malvado nas palavras que nos atos em si. Seu “portfólio” de ações criminosas é leve e, pode-se dizer, ele apresenta um senso de ética. A maior prova disso é ter permanecido calado com relação ao nome do mandante de um crime. Essa abdicação da delação premiada lhe custou 12 anos na prisão, fato que tirou dele a possibilidade de acompanhar tanto a mulher com câncer quanto o crescimento da filha adolescente.
A história é uma excelente oportunidade para que Jude Law demonstre todo o seu talento na pele de um sujeito vaidoso, arrogante, com extrema dificuldade para lidar com a raiva e, para dar vazão a todas essas características, bastante verborrágico.
Mr. Fontaine (Demian Bichir), o mandante, é apresentado na história como “um dos homens mais poderosos da Europa”. Ele tem consciência do que tirou de Dom e demonstra profunda gratidão por sua fidelidade. Tanto que quer lhe dar a tal recompensa que batiza o filme em terras brasileiras.
A história é simples, mas uma excelente oportunidade para que Jude Law demonstre todo o seu talento na pele de um sujeito vaidoso, arrogante, com extrema dificuldade para lidar com a raiva e, para dar vazão a todas essas características, bastante verborrágico.
E bota verborrágico nisso! Frise-se: é a torrente de palavras que faz com que Jude Law tenha a chance de aparentar estar em um palco, interpretando personagens de peças shakespearianas. O monólogo inusitado que abre o filme é somente uma demonstração disso.
O “casamento” entre personagem e ator é bastante competente e fica muito difícil não demonstrar interesse em saber para onde o protagonista vai levar o espectador. Quem assiste é poderosamente estimulado a devotar alta carga de atenção a cada cena, porque a sucessão delas é repleta de surpresas. Junte-se a isso tanto a cômica relação de Dom com o amigo Dickie (Richard E. Grant) quanto sua tentativa de reaproximação com a filha e você engrossará o rol de qualidades deste filme que merece ser visto.
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