O longa-metragem Belas e Perseguidas, que estreia nas salas de cinema brasileiras nesta quinta-feira, 2, é mais uma prova do desgaste criativo de Hollywood e sua tradicional insistência em condicionar mulheres a papéis de gênero que beiram (ou ultrapassam?) o ridículo. Numa estrutura narrativa genérica, o filme é um pot-pourri de clichês de gênero. Rose Cooper (Reese Witherspoon, de Livre) é uma metódica policial designada para a missão de proteger Daniella Riva (Sofía Vergara, de Modern Family), uma rica viúva que irá testemunhar contra um grande chefão do tráfico de drogas.
O filme, que não é diferente dos últimos 50 do gênero, é do tipo que se sabe como acaba antes mesmo da sessão começar. Anne Fletcher, a diretora, construiu sua carreira sobre as bases de um cinema supostamente feminino que praticamente não se sustenta desde o advento do movimento feminista.
Do lânguido Ela Dança, eu danço (Step up, 2006) ao insosso A Proposta (The Proposal, 2009), o cinema que Anne faz se baseia em fórmulas que já não estabelecem mais encantamento e catarse com o público feminino e que não é o mesmo há muitas décadas.
O que os grandes estúdios hollywoodianos parecem não ter percebido é que este tipo de comédia não cola desde os anos 1950, desde a queda da “Velha Hollywood” – falar isso quando na mesma década Billy Wilder produzia Quanto mais quente melhor pode soar ofensivo.
O cinema que Fletcher faz se baseia em fórmulas que já não estabelecem mais encantamento e catarse com o público feminino e que não é o mesmo há muitas décadas.
Reese, infelizmente, parece estar atingindo aquele momento hollywoodiano em que o mercado seca para atrizes à beira dos quarenta (enquanto este mesmo momento se abre para atores homens na mesma faixa etária). Ou pode ser apenas pelo dinheiro mesmo, o que parece ter sido uma péssima estratégia devido à forte rejeição do público a Belas e Perseguidas nos cinemas do Tio Sam.
Já Sofía Vergara, em seu corpo dionisíaco de quadris e decotes de efeitos mágicos em produtores babões, nunca esteve tão em alta. Não à toa, a objetificação excessiva das curvas de Sofia, somado ao seu sotaque-fetiche, tornam-se cansativos pela canastrice dos trejeitos étnicos que tanto atraem jovens americanos e seus quase inconfessáveis desejos voyeuristas por latinas.
A piada em torno de Rose Cooper baseia-se em seu metodismo caxias, um forçado sotaque redneck e uma verborragia de dar úlcera no espectador com menos de 10 minutos de filme. Ao mostrar-se uma mulher mais profissional e pouco sexualizada em tom pateticamente cômico, o filme soa nefasto ao enviar às suas espectadoras uma mensagem política de adequação de padrões estéticos, para que assim sejam consideradas mulheres de fato e fujam das comparações infantis com corpos masculinos. Ou objetifica-se, ou torna-se sexualmente nula. Ah, claro, não podemos esquecer que o jeito de Rose a impede de alcançar um dos seus maiores objetivos (como é de praxe nesse tipo de filme), que é conquistar um homem.
Belas e Perseguidas é tão cansativo e dispensável quanto a tal comicidade que busca estabelecer. Um filme esquecível…
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