Já faz quase quatro anos da morte do ator Robin Williams, que tirou a própria vida em agosto de 2014, chocando fãs ao redor do mundo. Mas muito já se escreveu à época sobre o paralelo entre a depressão de Williams e a síndrome do palhaço triste (aquele que faz os outros rir muitas vezes está chorando por dentro, resumindo bem superficialmente). Não é isso que quero fazer.
É que quando lembro de Robin Williams, não é sua tragédia pessoal que me vem à mente, mas tudo que ele representou no cinema, a quantidade absurda de filmes com ele que todos assistimos e como, para mim, ele é a representação do cinema dos anos 90.
O que desejo é lembrar das grandes obras (e de outras que nem tanto) do ator que transitava tão brilhantemente entre a comédia e o drama, apontar alguns Greatest Hits de sua prolífica carreira e lembrar que sua impressionante filmografia é pelo que ele merece ser lembrado. Para facilitar, vou me ater só à década de 1990, quando Williams dominou os cinemas e a Sessão da Tarde.
O.K. Se estamos sendo honestos, vou me ater aos anos 90, pois é lá que estão os filmes que minha memória afetiva selecionou e, assim como tenho certeza que essa lista é diferente para cada um, também sei que você conseguiria montar a sua facilmente dentre os mais de 25 títulos só nessa década.
Uma montanha-russa cinematográfica
Saindo de uma memorável performance em Sociedade dos Poetas Mortos (1989), Williams capitalizou seu prestígio dramático para protagonizar Tempo de Despertar (1990) com Robert DeNiro. Um drama feito para tocar, e longe de ser um dos meus favoritos, mas com importância inegável.
Pula para 1991 e temos Hook: A Volta do Capitão Gancho. Polêmico, já que essa adaptação moderna de Peter Pan realmente não está nem perto de ser um dos grandes filmes da carreira do ator, talvez até esteja mais perto de entrar no topo dos fracassos. Mas, para meu eu de 7 anos que mantinha um VHS com o filme gravado e assistia semanalmente, significava terror da cena da revelação que Robin Williams era Peter Pan adulto (O QUÊ?) e indignação com o caráter da Sininho de Julia Roberts. Hoje a indignação vai para o casting bizarro, mas lembrem-se: eu nunca te enganei caro leitor, essa lista é 100% emocional. Prometo que vai melhorar.
Aladdin (1992), porque animação também é cinema, o Gênio da Lâmpada é… genial (eu prometo que não vai acontecer de novo), e a interpretação vocal de Robin Williams sempre foi uma marca registrada, tanto que foi subutilizada em Bom Dia, Vietnã (1987) e no próximo filme da nossa linha do tempo: Uma Babá Quase Perfeita (1993). Provavelmente o campeão de reprises na Sessão da Tarde desta lista, a Sra. Doubfire deve entrar na lista dos 100 personagens mais reconhecíveis da história do cinema moderno. Despretensioso e memorável.
Quando lembro de Robin Williams, não é sua tragédia pessoal que me vem à mente, mas tudo que ele representou no cinema.
Seguindo a tendência iniciada em 91, Williams fez mais dois longas voltados ao público infanto-juvenil, Jumanji (1995) e Jack (1996). O primeiro é o Indiana Jones dos anos 90 (ousado, eu sei), uma aventura raiz com todos os elementos de um filme empolgante e que, até hoje, funciona para todas as idades. Provavelmente meu favorito na categoria Comédias/Infantis/Musicais de sua carreira. O segundo é um pouco mais genérico, eu diria até que força a famosa amizade, mas quem disser que não sorriu no final e não se lembra claramente da história do menino de 10 anos no corpo de um homem de 40, está mentindo.
E, para provar que o cinema não é uma arte exata e que ninguém é perfeito: no mesmo ano em que ganhou o Oscar de melhor ator coadjuvante por sua performance em Gênio Indomável (1997), que merece um texto só para ele, Williams protagonizou Flubber (1997). Flu-bber. Flu-… Rapaz.
Chegamos ao ano de 1998, e aqui eu preciso fazer uma confissão: eu não gosto de melodramas. Eu evito assistir a filmes que foram feitos com a intenção de me fazer chorar. Eu nunca assisti a Lista de Schindler ou A Escolha de Sofia, mesmo sabendo que eu deveria pelo valor clássico que ambos têm.
Mas o que isso tem a ver com qualquer coisa? Amor Além da Vida (1998) é o filme que me quebrou por dentro. Foi o primeiro que me fez chorar como um bebê e provavelmente faria de novo se eu arriscasse. O pior? É brega, datado, tem efeitos especiais que envelheceram mal e nem vou entrar no âmbito religioso que o filme aborda. Ainda assim, me atinge. E, às vezes, a efetividade de uma obra está aí. Por algum motivo, acessa meus sentimentos de um jeito que outros dramas considerados “melhores” não conseguiram.
Patch Adams: O Amor é Contagioso (1998) é também um drama e trouxe um dos personagens mais icônicos da carreira de Williams: o médico oncologista que praticamente emulava a personalidade do ator em sua vontade de fazer os outros felizes e usava um nariz de palhaço. E, por fim, O Homem Bicentenário (1999) encerrou a década mais frutífera da carreira de um grande ator e comediante. O filme traz discussões interessantes sobre consciência e inteligência artificial que talvez fossem mais valorizadas agora, em tempos de Westworld e afins, mas se beneficiaria de uma edição mais enxuta, já que suas duas horas e 12 minutos parecem o dobro. No entanto, a imagem do eu robótico de Robin Williams sempre estará no imaginário popular, ou ao menos no meu.
Eu honestamente adoraria saber como seria a lista de vocês já que, como dito no início deste texto, as variáveis são tão grandes que nenhuma deve se repetir com os mesmos filmes. Com certeza deixei de fora o que alguns considerariam um grande clássico e inclui uma obra dispensável para outros. Essa é a beleza da coisa.
Essa é a beleza da diversidade da obra de um gênio.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.