Uma fotografia antiga encontrada na internet, sem autor identificado ou data precisa, foi a inspiração para o roteiro do curta-metragem Tarântula, produção paranaense dirigida pelos cineastas Aly Muritiba e Marja Calafange, anunciada hoje (29), como uma das selecionadas para a Mostra Competitiva do Festival de Veneza, que acontece entre 2 e 12 de setembro na cidade histórica italiana.
A imagem, em preto e branco, mostra uma menina de castigo voltada contra a parede, ao lado de várias bonecas, de diversos tamanhos, na mesma posição, como se também estivessem em penitência. Quem encontrou a foto foi Marja, pernambucana que vive, desde 2007, em Curitiba, onde vem atuando como diretora de arte, de fotografia e realizadora, com outros três curtas no currículo.
Intrigada, Marja desenvolveu um argumento, mostrado para o premiado cineasta Aly Muritiba (dos premiados curtas A Fábrica e Pátio), baiano radicado no Paraná, que também se encantou com a ideia. Juntos, desenvolveram o roteiro de Tarântula, que passou por diversas transformações até chegar à versão rodada em agosto de 2014, em apenas três dias, na cidade de Irati, no centro-sul do estado.
Em entrevista a Escotilha, os diretores contaram que a localidade foi escolhida por conta do cenário principal do curta, um casarão, que, segundo Muritiba, é “quase um personagem” da trama, que gira em torno de uma família religiosa, formada por uma mãe e duas filhas, que vivem meio isoladas do mundo na velha propriedade.
A rotina das três é alterada com a chegada de um homem (Paulo Matos). A filha mais velha (Giuly Biancato), de 14 anos, lembra-se de tê-lo visto com a mãe (a atriz e cantora Ana Clara Fischer) antes do desaparecimento do pai, e começa a pensar numa forma de se livrar do intruso.
Além da obra do diretor alemão Michael Haneke (de A Fita Branca e Amor), dos quais ambos os diretores são fãs, Muritiba e Marja citam como referências sutis e indiretas, tanto na construção da narrativa quanto na ambientação do curta, os filmes de terror psicológico Os Outros (do chileno Alejandro Amenabar) e O Orfanato (do espanhol J. A. Bayona) e Dente Canino (do grego Yorgos Lanthimos).
Sobre o trabalho a quatro mãos, os realizadores dizem que a relação entre eles foi de perfeita harmonia. “O Aly é mais ligado na direção dos atores, na mise-en-scène, enquanto eu, por meu histórico profissional, me ocupei mais da parte da estética, da composição dos quadros”, contou Marja.
Sobre o trabalho a quatro mãos, os realizadores dizem que a relação entre eles foi de perfeita harmonia.
Além de ter sido selecionado para Veneza, Tarântula também estará em competição nos festivais internacionais de Biarritz (França, em outubro), Bristol (principal mostra de curtas do Reino Unido, também em setembro) e para o Festival de Cinema Brasileiro de Brasília (15 a 22 de setembro), onde fará sua estreia nacional, ao lado de outro trabalho de Muritiba, Para Minha Amada Morta, que participará da mostra competitiva de longas-metragens.
Na trama, o ator Fernando Alves Pinto (de Terra Estrangeira) vive o papel principal, personagem que leva o seu nome. Bacharel em Direito, trabalha para a polícia civil como fotógrafo e papiloscopista (especialista em impressões digitais). Ele e a mulher (Michelle Pucci), também advogada, têm um filho e parecem levar uma vida harmônica, sem maiores sobressaltos, até que ela morre.
Ao mexer nos pertences da esposa, movido pelo desespero com a perda sofrida, Fernando encontra uma fita VHS que revela um segredo terrível: ela tinha uma vida dupla e mantinha, há algum tempo, um romance com outro homem, vivido pelo ator curitibano Lourinelson Wladimir (de Curitiba Zero Grau). Perplexo com a descoberta, o protagonista entra em uma espécie de surto obsessivo: precisa saber mais sobre esse relacionamento, conhecer de perto o homem que a mulher amou.
Além de selecionado para o Festival de Brasília, o filme também participará nos próximos meses dos festivais de Montreal (Canadá, no fim de agosto) e San Sebastian (Espanha, em setembro). Muritiba conta que o filme deve estrear em circuito nacional em março de 2016, com distribuição da Vitrine Filmes.
Também foram selecionados para o Festival de Veneza, na mostra paralela Horizontes os longas brasileiros Boi Neon, de Gabriel Mascaro, e Mate-me por Favor, de Anita Rocha da Silveira.
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