O cineasta carioca Sérgio Rezende é muito lembrado por seus dramas históricos. É dele Lamarca (1994), cinebiografia do oficial do Exército Brasileiro, que se tornou-se um dos heróis da resistência contra a ditadura militar, transformando-se em guerrilheiro, e vivido na tela por Paulo Betti. O filme, lançado antes que Carlota Joaquina – Princesa do Brazil (de Carla Camuratti), foi precursor da Retomada, ao tirar a produção nacional do coma e começar a levar o público de volta aos cinemas para ver filmes brasileiros.
Depois, vieram Guerra de Canudos (1997) e Mauá – O Imperador e o Rei (1999), grandes produções que, embora não sejam desprovidas de qualidades, deixam muito a desejar, talvez porque não busquem, em nome do espetáculo, da grandiloquência, a dimensão mais humana das histórias que contam. Algo que ele havia conseguido com Lamarca e voltou a alcançar com o competente Zuzu Angel (2006), baseado na história trágica de luta da estilista carioca (Patrícia Pillar, no filme), que moveu céu e terra para encontrar o corpo do filho, torturado e morto pelo regime.
Em seu novo longa, Em Nome da Lei, que estreou ontem nos cinemas, Rezende busca um registro mais próximo do cinema de gênero, mesclando thriller com policial, o que já havia experimentado com mais êxito no subestimado Salve Geral (2009), que embora tenha representado o Brasil na briga pela indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro, não foi muito visto.
É inevitável traçar paralelos entre Vitor e o juiz paranaense Sérgio Moro, ainda que não tenha sido uma aproximação intencional.
A trama, que se passa entre o Brasil e o Paraguai, tem como protagonista Vitor, um juiz relativamente jovem, obstinado e idealista, que chega a uma cidade corrupta e tenta mudar a situação, com a ajuda da procuradora Alice (Paolla Oliveira). Os inimigos são previsíveis: políticos e policiais corruptos e criminosos – o vilão, El Hombre, é vivido por Chico Diaz.
É inevitável traçar paralelos entre Vitor e o juiz paranaense Sérgio Moro, ainda que não tenha sido uma aproximação intencional. O personagem de Mateus Solano parece ter sido moldado à imagem e semelhança da sua persona pública.
O longa, no entanto, nunca decola. Tem um roteiro esquemático, previsível – o caso de amor entre Vitor e Alice é uma imposição dramática desnecessária, folhetinesca, que esvazia o filme, cheio de lugares-comuns e diálogos pífios. Rezende já foi bem melhor.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.