A francesa Claire Denis é dona de uma das filmografias mais intrigantes do cinema contemporâneo, com frequência voltada a temas relacionados à condição feminina. Não se trata, entretanto, de uma obra militante ou engajada. É complexa demais para se adequar a esses rótulos. Deixe a Luz do Sol Entrar, que hoje chega às telas brasileiras, é prova dessa inquietude, a partir de uma protagonista que parece ser tudo menos uma heroína evidentemente feminista, mas tem uma complexidade impressionante.
Na pele da extraordinária Juliette Binoche (de O Paciente Inglês), Isabelle é uma artista próxima dos 50 anos, que vive uma crise existencial. Desconfortável com a maturidade que a idade lhe impõe, a personagem, ao mesmo tempo em que questiona todos os seus relacionamentos, contraditoriamente insiste em acreditar no amor romântico.
Na pele da extraordinária Juliette Binoche (de ‘O Paciente Inglês’), Isabelle é uma artista próxima dos 50 anos, que vive uma crise existencial.
O fato de ser uma romântica crítica, uma racionalista esperançosa, faz com que Isabelle insista em sua busca pelo homem ideal, que pode ser um banqueiro, o ex-marido, um homem mais jovem, um ator. Todos são alvos de seu desejo, mas, também, de um crivo afiado e acabam, de alguma forma, sendo reprovados. Hesitante, instável, ela chora, revolta-se com o infortúnio de não encontrar o par ideal em lugar algum, mas não perde as esperanças.
Denis, cuja obra transita entre dramas sociais e familiares, opta aqui pela leveza, o que fez com que a crítica francesa festejasse sua opção de, finalmente, ter realizado uma comédia. Não parece ser exatamente o caso, ainda que o filme tenha momentos bem engraçados.
Deixe a Luz do Sol Entrar é um interessante estudo de personagem, no qual a subjetividade feminina, por conta do roteiro preciso de Denis e Christine Angot, é retratada sem grandes arroubos, ou discursos, mas certamente irá gerar muitas discussões entre mulheres, feministas ou não.
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: [email protected] Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.