Jodie Foster é um selo de qualidade. Seja como atriz, vencedora de dois Oscars, cineasta ou produtora, seu nome, por conta de uma impressionante e longeva carreira em Hollywood, torna qualquer projeto potencialmente interessante. Artista crítica, engajada e sempre em busca de desafios, ela mais acertou do que errou em Hollywood, onde conseguir manter a coerência é privilégio para poucos.
Em Jogo do Dinheiro, seu novo projeto como diretora, depois de bem-sucedidas incursões em seriados consagrados como House of Cards e Orange Is the New Black, Jodie sai bem em vários quesitos. Mesmo se o longa-metragem, que estreia hoje nos cinemas brasileiros, não chega a ser um grande filme.
No centro da trama, uma espécie de fábula cautelar sobre o capitalismo selvagem, está o jornalista Lee Gates (George Clooney), que mantém em um canal de tevê paga um programa que dá dicas de investimentos ao grande público. Dono de uma personalidade exuberante, marcada pela irreverência e pelo egocentrismo, o apresentador é um showman: inicia suas transmissões como coreografias de hip-hop, acompanhado de dançarinas e suas falas, muitas delas de improviso, fazem dele uma personalidade midiática, para o bem ou para o mal.
O filme também traz uma visão pouco generosa da chamada grande mídia, pouco ética e também ávida por números de audiência que se traduzem mais em dinheiro do que em credibilidade.
A carreira de Gates, no entanto, passa por um revés quando, após uma dica equivocada, dada em seu programa, faz com que milhares de investidores percam uma soma calculada em US$ 800 milhões. E um deles resolve fazer justiça com as próprias mãos.
Kyle Budwell (Jack O’Connell, revelado por Invencível). invade o estúdio onde o show de Gates é apresentado ao vivo e o toma com refém: que não apenas ele, mas a empresa que fez com que perdesse todas as suas economias, se retratem e expliquem ao vivo e em cores o que fizeram com o dinheiro dos investidores. O incidente se transforma em um circo midiático, acompanhado em tempo real.
Com um ótimo argumento, mas um roteiro que perde o fôlego, se tornando até certo ponto previsível a partir de determinado momento da história, Jogo do Dinheiro tem o mérito de, assim como A Grande Aposta, retratar o mundo das finanças de forma bastante crítica, senão cínica, revelando o quanto brinca com a vida de milhões em nome da manutenção de lucros para muito poucos.
O filme também traz uma visão pouco generosa da chamada grande mídia, pouco ética e também ávida por números de audiência que se traduzem mais em dinheiro do que em credibilidade. Nesse jogo, a produtora Patty Fenn (uma Julia Roberts bem coadjuvante, mas em boa interpretação) simboliza, em alguma medida, uma certa reserva ética, que ajuda Gates a perceber seus inúmeros erros.
Clooney, um ator sutil, se sai bem em um personagem que parece ter sido escrito sob medida para seus dotes dramáticos. Mas o roteiro não lhe dá tantas chances de solar. O’Connell rouba a cena, por fazer um papel mais complexo, que é o coração e a alma de um filme, que não lhe dá todo o espaço que merecia.
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