Não é segredo que o governo dos Estados Unidos é ágil para intervir na soberania de outros países quando lhe convém. O que nem todo brasileiro sabe é o grau de apoio do governo estadunidense ao golpe militar de 1964. O episódio derrubou o presidente João Goulart, eleito pelo povo, e deu espaço a um regime autoritário que desrespeitou direitos civis com práticas como a censura, a tortura e a morte.
O documentário O dia que durou 21 anos (2012), de Camilo Tavares, cumpre com louvor a missão de jogar luzes sobre esse período obscuro da História do Brasil. E o faz de forma bem fundamentada, exibindo documentos ultrassecretos da CIA e gravações de áudio originais da Casa Branca, fontes tornadas públicas há poucos anos.
Complementando seu trabalho com muitas entrevistas com estudiosos e personagens contrários e favoráveis à instauração da ditadura em terras brasileiras, Tavares explora temas como o papel do então embaixador estadunidense no Brasil, Lincoln Gordon, em todo esse processo; e a operação Brother Sam, que previa o posicionamento estratégico de uma frota naval na costa brasileira prestes a invadir o País caso houvesse resistência ao golpe militar.
O motivo de toda essa preocupação dos EUA em derrubar João Goulart e implantar a ditadura? Medo de que acontecesse no maior e mais importante país da América Latina o que havia acontecido em Cuba.
Mas e qual foi, afinal, o motivo de toda essa preocupação dos EUA em derrubar João Goulart e implantar a ditadura? Medo. Medo de que acontecesse no maior e mais importante país da América Latina o que havia acontecido em Cuba: a instauração do comunismo. João Goulart vinha desenvolvendo um governo de viés popular, que tinha como dois pontos de destaque a reforma agrária e a crítica ao lucro desenfreado de multinacionais em detrimento do Brasil. Isso fez com que Lincoln Gordon pintasse para a Casa Branca um quadro altamente comunista de Goulart e colaborasse para a queda do regime democrático.
Camilo Tavares entrega um filme obrigatório para qualquer brasileiro. Não apenas por sua importância histórica, mas, igualmente, por seu caráter extremamente atual. O assunto ganha destaque nesse contexto contemporâneo de manifestações organizadas em favor da volta do regime ditatorial no País.
A facilidade com que as mais diferentes opiniões e mensagens proliferam-se nesta era das redes socias passa a impressão de que ficou muito mais fácil reescrever a História ao gosto dos interesses – e das ideologias – de pequenos grupos. Fundamentando-se na consulta a múltiplas fontes, o cineasta não só esmiuça detalhes pouco conhecidos desse capítulo da trajetória nacional como, também, lança o convite para que tudo isso fique no passado.
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