O novo longa-metragem do cineasta norte-americano Tom McCarthy, vencedor do Oscar de melhor filme e roteiro adaptado por Spotlight: Segredos Revelados (2015), intitula-se Stillwater. Além de ser o nome da cidadezinha no estado de Oklahoma de onde são os personagens centrais da trama, a palavra significa “água parada”, metáfora que bem descreve o protagonista, Bill (Matt Damon, de Perdido em Marte), um homem da classe operária, caladão, com um passado de alcoolismo e violência, que se vê obrigado a se colocar em movimento por amor à filha.
Vivida por Abigail Breslin, revelada por A Pequena Miss Sunshine, Allison cumpre pena em uma prisão em Marselha, no sul da França, condenada pelo assassinato de sua ex-namorada, uma garota de origem árabe que também era sua colega de universidade. A jovem, presa há quatro anos, jura que não é culpada e quando a avó que a criou é impedida pela saúde em declínio de viajar para visitá-la periodicamente, Bill, com quem Allison tem uma relação distante e tensa, assume esse papel.
Ao visitar a filha na penitenciária, Bill ouve dela um apelo. Ele deve procurar a juíza responsável pelo seu caso e lhe peça para investigar um rapaz com antecedentes criminais, também de origem árabe, que pode ser o verdadeiro assassino. O pedido, no entanto, é negado, sob a alegação de que o caso está encerrado.
Inspirado livremente em uma história real, ocorrida com uma estudante estadunidense na Itália, Stillwater, no entanto, é uma obra de ficção. McCarthy está menos interessado no caso policial em si do que no esforço de Bill de reaproximar-se da filha, de provar a ela seu amor, embora a jovem o rejeite por ter sido um pai ausente e errático.
O arco dramático de Bill é o que há de mais interessante em Stillwater, selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cannes neste ano. É um dos melhores desempenhos da carreira de Damon, muito convincente como um homem fechado, chucro e complexo. Após mais um desentendimento com Allison, que não quer mais vê-lo, ele decide ficar em Marselha, na esperança de conseguir provar a inocência da filha.
O arco dramático de Bill é o que há de mais interessante em Stillwater, selecionado para a mostra competitiva do Festival de Cannes neste ano.
Para isso, ele conta com a ajuda de Virginie (Camille Cottin), uma atriz local, mãe solo de uma menina pequena, de quem Bill se afeiçoa, como se pudesse de alguma forma reaprender com ela a ser pai. Embora tenha traços em comum com a franquia Busca Implacável, estrelada por Liam Neeson no papel de um pai que não mede esforços para defender a família, o foco de McCarthy não está na ação, mas na relação entre Bill e Allison. Abigail Breslin também brilha, emprestando à personagem uma muito bem-vinda ambiguidade. Como a personagem mesmo diz, ela e o pai são mais parecidos do que ela gostaria.
Outro ponto positivo de Stillwater é a maneira crítica como temas nevrálgicos como racismo e justiçamento são tratados. Bill não é tratado como um herói e nem a trama é uma história de superação. O desfecho supreendente deixa claro que não se trata de mais uma trama em que o homem branco, norte-americano, enfrenta tudo e todos no estrangeiro para voltar triufante para casa. O filme é bem mais complexo do que isso.