A cantora Mercedes Sosa é um ícone na música latino-americana. A argentina, conhecida como La Negra, é provavelmente a maior cantora da história da música hispânica e, talvez, também do mundo. Por mais arriscada que seja a frase, não há exagero quando olhamos para sua importância cultural e política.
Mercedes Sosa: a Voz da América Latina é uma celebração da carreira de mais de 50 anos da cantora. Ao longo do documentário, recém adicionado ao catálogo do Netflix, somos apresentados a histórias curiosas e pouco conhecidas da sua vida pessoal e profissional.
Chico Buarque, Milton Nascimento, León Gieco, Víctor Heredia e David Byrne (dos Talking Heads) são alguns dos personagens que narram histórias de seus encontros com a cantora e falam sobre a importância de La Negra para a música.
Dirigido pelo argentino Ricardo H. Vila, que também dirigirá o documentário em 3D do clube argentino Boca Juniors, o longa tem uma narrativa tradicional e não apresenta nenhuma novidade em questão de linguagem.
Neste sentido, Mercedes Sosa: a Voz da América Latina chega a ser um pouco arrastado, sem ritmo. A estrutura é muito semelhante ao quadro Arquivo Confidencial, do Programa do Faustão na Rede Globo. Depoimentos, alguns filmes de arquivo pessoal e músicas, muitas músicas.
Ao longo do documentário, recém adicionado ao catálogo do Netflix, somos apresentados a histórias curiosas e pouco conhecidas da sua vida pessoal e profissional.
A sorte de Vila é que seu objeto é muito carismático. Mercedes sempre foi uma mulher e uma cantora que aproximava as pessoas, seja pelo seu talento musical, seja pelo carinho com que tratava todos ao seu redor.
Mercedes Sosa, uma das escritoras do Manifesto do Novo Cancioneiro – um movimento musical-literário que ocorreu na Argentina e repercutiu por toda América Latina, que tinha por objetivo impulsionar o desenvolvimento de uma canção com características mais regionais no país hermano – foi uma grande ativista política, em especial durante os duros anos de ditadura (1976 a 1983). É importante notar que, apesar desta relação da cantora com a política, o documentário não é um filme político.
O melhor de Mercedes Sosa: a Voz da América Latina é o quanto ele é capaz de impactar o espectador, muito por conta das doses cavalares de emoção que o filme gera em quem o vê. David Byrne, fundador do Talking Heads, dá um depoimento que bem define a cantora argentina. O músico recorda que Mercedes Sosa bem usou a música como instrumento para expor suas ideias políticas e sociais, sendo, provavelmente por isso, uma porta-voz das minorias latino-americanas.
Em uma época na qual os nervos estão à flor da pele e vemos que alguns bradam pelo retorno dos militares ao poder, o documentário age também como uma lição de história, mesmo que não tenha esta pretensão. Os que viveram essa página nebulosa de nossa história também se sentirão sensibilizados.
A verdade é que, mesmo com um ou outro deslize existente no filme, é impossível assistir a Mercedes Sosa: a Voz da América Latina e sair ileso.
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