O cinema, desde que começou a falar, no fim da década de 1920, sempre buscou inspiração na obra do dramaturgo inglês William Shakespeare, universal e atemporal. Por isso, as adaptações de seus textos para a tela grande, além de muitas, são diversas em todos os aspectos, menos ou mais fiéis aos originais.
O cineasta australiano Justin Kurzel, em sua versão de Macbeth, que estreou hoje nos cinemas brasileiros, optou por um caminho corajoso: colocar todas as possibilidades que o cinema dispõe a serviço da tragédia de Shakespeare, centrada na busca desenfreada do protagonista e de sua esposa pelo poder, mantendo no centro nervoso de seu filme o precioso texto do bardo.
Para isso, escalou para os papéis centrais o teuto-britânico Michael Fassbender (de Shame) e a francesa Marion Cotillard (de Piaf – Hino ao Amor), atores consagrados, mas sobretudo equipados para enfrentar o desafio.
A versão de Kursel, no Brasil intitulada Macbeth – Ambição e Guerra, é corajosa, porque não procura facilitar a experiência do espectador, adaptando demais, ou simplificando o texto original. Visualmente, o filme materializa a atmosfera sombria, soturna até, do texto shakespeariano, por meio de um tratamento que reforça esse clima sem o intuito de buscar o belo mais óbvio, o que seja agradável aos olhos. Opta por cores escuras, pelas sombras, por uma direção de arte nada suntuosa, dando à trama e aos diálogos a ambientação necessária para que assumam o protagonismo. A ação está a serviço do texto, e não o contrário, como costuma ocorrer em boa parte das adaptações mais recentes de peças de Shakespeare.
A ação está a serviço do texto, e não o contrário, como costuma ocorrer em boa parte das adaptações mais recentes de peças de Shakespeare.
Essa opção, sem dúvida ousada, pode se tornar árida demais para o espetador desavisado que for ao cinema em busca de uma história medieval, aos moldes da série Game of Thrones, com o qual Macbeth tem várias conexões temáticas e históricas, ainda que a super popular obra de George R. R. Martin se utilize de referências medievais para recriá-los em um espaço-tempo drástico, não realista.
Com 41 anos, Kurzel, que não possui uma obra muito extensa, mostra-se destemido. Macbeth já foi levado ao cinema por mestres como Orson Welles (1948), Akira Kurosawa (em Trono Manchado de Sangue, de 1957), Roman Polanski (1971), e ele não parece intimidado. Aproxima-se da obra com rigor e vigor.
E a experiência com Fassbender e Cotillard deu tão certo que ele os convidou para estrelar seu próximo filme, Assassin’s Creed, baseado no videogame homônimo.
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