Colaboraram Alejandro Mercado e Francisco Mallmann.
Curitiba recebe, a partir desta terça-feira (16), a Mostra Reinventando Shakespeare. Realização da Caixa Cultural Curitiba, com curadoria de Fábio Feldman, professor e crítico cinematográfico, e Marcelo Miranda, jornalista, professor e crítico cinematográfico, a Mostra contará com 16 adaptações cinematográficas de peças do escritor inglês, assinadas por diversos diretores, entre os quais: Akira Kurosawa, Orson Welles e o brasileiro Ozualdo Candeias.
Com entrada gratuita, o evento é uma excelente oportunidade para quebrar o mito da inacessibilidade da obra de Shakespeare. “Esse mito da inacessibilidade está ligado ao fato fato de os textos originais serem escritos em inglês arcaico e possuírem forte dimensão poética”, afirma Fábio Feldman, um dos curadores. “Logo, não se tratam mesmo de obras ‘fáceis'”, completou.
Reforçando este propósito, a Mostra Reinventando Shakespeare também contará com sessões comentadas, mesas-redondas e uma palestra com Pedro Süssekind, doutor em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, especialista em Shakespeare e autor do livro Shakespeare: o Gênio Original.
Shakespeare ímpar
Em 2014, foram celebrados 450 anos de Shakespeare e, ao escrever sobre a vida e a importância do dramaturgo, Maria Eugênia de Menezes, crítica de teatro do Estadão, disse o seguinte: “Há 450 anos, São Paulo era uma missão jesuítica com pouco mais de cem habitantes. Não havia luz elétrica ou carros. A imprensa acabara de ser inventada na Europa. E a inquisição da igreja católica ainda vigorava para condenar os hereges. Visto assim, o mundo era, em quase tudo, diferente do que conhecemos hoje. Mas foi nesse contexto, aparentemente tão distante, que o inglês William Shakespeare escreveu as obras que ainda hoje usamos para representar os conflitos e a complexidade humana.”
O que a jornalista faz, nesse trecho, é revelar o quanto a atualidade e a presença da obra de Shakespeare em várias culturas, pode causar espanto e surpresa – porque, de fato, é assustador o modo como nos vemos, ainda, descritos e representados nas páginas produzidas há alguns séculos. A sua importância, talvez, é a de nos apresentar um espelho atemporal. Estaremos, inevitavelmente, refletidos.
Como todo clássico, Shakespeare faz parte da formação de quem quer que seja – ninguém, especialmente quem se interesse pelas letras ou pelos palcos, tem uma trajetória imune ao autor inglês. Em atuação, especificamente, são raros os atores que não precisaram ou quiseram enunciar algumas palavras dele. “Ele é necessário”, é o que parecem dizer todas as coisas e, talvez por isso, seja possível manusear essa produção de tantas maneiras quanto possíveis.
‘Não existem limites para uma dramaturgia como a de Shakespeare’, afirma Alex Wolf.
A história da arte está cheia de provas de que a pluralidade proveniente de Shakespeare é imensa – as vastas produções teatral e cinematográfica parecem sempre nos revelar novas formas de leitura e articulação das temáticas e abordagens do autor. “Não existem limites para uma dramaturgia como a de Shakespeare”, sintetiza o diretor Alex Wolf, do Grupo de Teatro do UniBrasil (Grutun!). “Mesmo que seja apenas uma nova versão pelos olhos de um diretor ou cineasta, a obra dele se multiplica em novos arranjos semióticos”, finaliza.
O que significa reinventar Shakespeare?
O crítico de arte Harold Bloom não concorda quando dizem que a obra de Shakespeare atinge apenas a algumas pessoas. Ao se questionar “Podemos conceber nós mesmos sem Shakespeare?”, ele produziu o livro Shakespeare – A Invenção do Humano (editora Objetiva). Em certa altura da obra, ele afirma que não se trata de um autor importante somente para atores, diretores, professores e críticos. “Isso é sobre você e sobre todas as pessoas que você conhece”, afirma o autor.
“O bardo foi um iconoclasta, um rebelde. Escarneceu das convenções e acabou por gerar novas”, aponta Feldman. Impossível, então, que reinventá-lo não seja, ainda, reinventarmo-nos enquanto humanos. “A grandeza de tal empreendimento artístico é, certamente, um dos motivos pelos quais, ainda hoje, mídias como o cinema seguem contemplando-o tão consistentemente. Quero crer que a Mostra revelará isso ao público.”
Os preferidos
Para o diretor Alex Wolf, Falstaff – O Toque da Meia Noite (1965), de Orson Welles (domingo, 21/02, às 17h – sessão comentada pelo curador Marcelo Miranda) é um dos filmes imperdíveis. “Enredo forte e envolvente, personagens marcantes. Gosto muito de todos os dirigidos por ele.”
Já Fábio Feldman aponta as adaptações dirigidas por Peter Brook, Alexander Abela e pelo brasileiro Ozualdo Candeias como destaques. “Tenho muito carinho por todos os filmes selecionados”, diz. “Se precisasse elencar destaques, eu salientaria os filmes mais raros, como o belíssimo Rei Lear, de Peter Brook, a versão africana de Macbeth (Makibefo, de Alexander Abela), e o incrível A Herança, dirigido pelo brasileiro Ozualdo Candeias”, completou.
SERVIÇO | Mostra Reinventando Shakespeare
Onde: Caixa Cultural Curitiba – Rua Conselheiro Laurindo, 280 – Centro, Curitiba
Quando: De 16 a 21 de fevereiro – confira sessões e horários no site oficial;
Quanto: Gratuito.
Mais informações podem ser obtidas no site oficial.
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