Uma das teorias mais usadas para explicar o interesse do público sobre o horror é a de que o gênero se parece com uma montanha-russa. Queremos sentir a adrenalina da ameaça, mas com a certeza de que estamos, de alguma forma, seguros.
As duas experiências se popularizaram mais ou menos na mesma época, por volta do século XVIII. Na Inglaterra, O Castelo de Otranto, de Horace Walpole, e outros romances góticos davam as bases para o que seria o horror. Na Rússia, empresários criavam estruturas de madeira preenchidas com neve para criar uma espécie de escorregador de trenós. Mais tarde, esse aparato seria substituído por trilhos e pequenos vagões.
Os livros de fantasmas e as montanhas-russas se tornaram diversão de um público letrado e burguês. No século XIX, o medo era uma emoção comum no entretenimento dos europeus. Espetáculos de fantasmagorias, shows de horrores e apresentações circenses eram outras atrações que estimulavam o temor da plateia, mas mantinham algum tipo de segurança.
Em um dos artigos do livro Horror Zone, The Cultural Experience of Contemporary Horror Cinema, a pesquisadora norte-americana Angela Ndalianis também associa as narrativas de horror ao surgimento do trem-fantasma (dark rides, no original). Como no gênero, a clássica atração de parques de diversões era um local em que era possível vislumbrar o sobrenatural sem receio de que isso era também um passaporte para a morte.
Pessoalmente, o horror sempre me atraiu justamente por essa contradição. É um gênero que nos desestabiliza diante do mundo racional. É um estímulo ao grito e um convite à tensão.
Esses sofisticados passeios de sustos são praticamente contemporâneos do cinema. Apareceram com força nos primeiros anos do século XX e tinham o mesmo papel de introduzir um mundo sensorial novo, horripilante. Por volta da década de 1950, os trens-fantasmas passaram a se alimentar do imaginário da sétima arte. Drácula, o monstro de Frankenstein, a múmia e o lobisomem eram aparições obrigatórias.
Após a década de 1970, quando o horror se tornou um gênero bastante visceral e gráfico nas telas, os trens-fantasmas gradativamente perderam força. Viraram piada. Na minha adolescência, fazíamos fila para rir dos monstros de plástico falsos nos parques de diversão. Hoje, as salas de cinema parecem querer ocupar o lugar vago, adotando o 3D, as cadeiras que se mexem e outros estímulos físicos de imersão.
As montanhas-russas, por outro lado, continuam com a popularidade em alta. A teoria que a aproxima do horror também (eu mesmo usei ela algumas vezes nesta coluna). No documentário American Nightmare (2000), que discute filmes da geração new horror, o historiador Tom Gunning defende que as duas experiências são maneiras de deixarmos nosso casulo de segurança:
“O ambiente moderno nos coage, em termos de estímulos visuais e sonoros, com o perigo constantemente. O que temos que fazer para sobreviver é nos separar disso. Criamos uma espécie de membrana, que não permite que tudo isso penetre. Se pensarmos nisso como uma segunda pele ou como um isolamento, não sentimos [essa coação] tão intensamente. Logo, há um estranho desejo no mundo moderno por estímulos. É uma relação contraditória. De um lado, nos sentimos oprimidos e nos protegemos. Do outro, ficamos insatisfeitos com tanta proteção e queremos perfurar essa membrana.”
Pessoalmente, o horror sempre me atraiu justamente por essa contradição. É um gênero que nos desestabiliza diante do mundo racional. É um estímulo ao grito e um convite à tensão. Exatamente como a primeira queda ou o looping de uma montanha-russa.