A escuridão é um elemento recorrente no cinema de horror. Nas produções góticas da era de ouro da Universal, as sombras serviam como metáfora para o comportamento obscuro das criaturas que habitavam os antros dos castelos europeus. A luz era a representação da segurança, pois só com a sua presença podemos ver o que está a nossa frente com clareza e racionalidade.
Há um conjunto de obras do gênero que parece se alimentar literalmente dessa discussão. São os filmes de nictofobia, que transformam a escuridão em uma espécie de receptáculo para monstros e outros seres das trevas.
No recente Quando as Luzes se Apagam (2016), de David F. Sandberg, uma família é assombrada pela aparição de uma mulher fantasma que tem aversão às luzes. Para se proteger, os personagens precisam de lanternas, luzes incandescentes e tochas. Como a maior parte da trama se passa à noite, os momentos de tensão se consolidam quando os personagens não conseguem refúgio na claridade.
Esse conjunto não deixa de fazer uma releitura do imaginário popular dos vampiros. As vítimas não se refugiam mais ao sol, mas em qualquer fonte de iluminação que os permita escapar da morte que os espera na sombra.
A mesma estratégia narrativa aparece em Eclipse Mortal (2000), de David Twohy. O longa-metragem que catapultou Vin Diesel ao estrelato acompanha uma equipe de expedição espacial que cai em um planeta desabitado. O local passará por um eclipse de um mês, o que permite que alienígenas fotossensíveis saiam de suas cavernas para atacá-los. Aqui, fontes de iluminação também são mais importantes do que armas de fogo para as vítimas.
No Cair da Noite (2003) talvez seja o mais famoso desse conjunto heterogêneo de obras. É também o mais criticado. Uma cidade é atacada pela fada do dente, uma feiticeira que não pode ser tocada pela luz. Ainda que a proposta pareça interessante, a execução carece de criatividade e, ao contrário do título de Twohy, as soluções visuais não se resolvem muito bem.
Nas três produções, crianças ocupam um papel importante na percepção da ameaça. Medo do escuro, afinal, não é uma coisa muito adulta. São os pequenos que significam silhuetas de roupas e objetos do quarto como criaturas ameaçadoras – ideia representada com bastante precisão na animação Monstros S.A. (2001).
A lista de narrativas de nictofobia ainda inclui A Sétima Vítima (2002), Habitantes da Escuridão (2002) e Mistério da Rua 7 (2010), entre outros. Penso que esse conjunto não deixa de fazer uma releitura do imaginário popular dos vampiros. As vítimas não se refugiam mais ao sol, mas em qualquer fonte de iluminação que os permita escapar da morte que os espera na sombra.
Há certa cumplicidade do público com os personagens desses filmes. Afinal, cinema é luz. Quando estamos em frente à tela, nosso maior pavor é ficar no escuro e perder de ver o que se projeta diante dos nossos olhos.