“A Pata do Macaco” é o conto mais famoso do escritor britânico W. W. Jacobs (1863‐1943), que escreveu sobre humor e fantasmas no início do século passado. A história também é uma narrativa muito influente dentro da literatura de horror, com inúmeras adaptações e variações lançadas para o cinema, rádio e televisão.
Escrita em 1902, a trama acompanha um casal que, ao receber a visita do filho e de um amigo, descobre que uma pata empalhada de macaco pode conceder três desejos a um preço terrível. O pai pede 200 libras para testar o objeto, quantia que recebe na forma de seguro pago pela morte do filho no dia seguinte. Em luto, ele pede para que o jovem ressuscite, o que imediatamente ocasiona uma série de batidas nas portas. Com medo do que irá encontrar, o pai pede novamente para que o primogênito continue enterrado. A mãe abre a porta e não encontra ninguém.
De alguma forma, “A Pata do Macaco” parece ecoar o próprio temor cristão do pacto com o diabo, melhor representado na figura de Mefistófeles.
Autores como Richard Matheson, Rod Serling e Stephen King se apropriaram da mesma premissa em histórias como A Caixa, O Homem da Garrafa e Trocas Macabras. Em cada uma dessas obras, o tema central parece ser o custo de um desejo, que nunca pode vir de graça no mundo contemporâneo, sustentado por relações de interesse e pela lógica do lucro.
De alguma forma, “A Pata do Macaco” ecoa o próprio temor cristão do pacto com o diabo, melhor representado na figura de Mefistófeles. Na mitologia medieval alemã, esse demônio era quem seduzia almas de humanos em troca de favores. O personagem é mais conhecido pela presença em Fausto, poema trágico escrito por Goethe.
Ao invés de cooptar o espírito das pessoas, a relíquia da história de Jacobs parece transgredir a moral e o próprio desejo de quem a usa. Ela perturba e invoca a culpa. Em 1997, o filme de baixo orçamento O Mestre dos Desejos, produzido por Wes Craven e dirigido por Robert Kutzman, reproduzia parte dessa ideia. O enredo mostrava um demônio que concedia pedidos para matar e aprisionar as almas de suas vítimas.
Mais próximo do conto original está o horror adolescente 7 Desejos (2017), dirigido por John R. Leonetti e lançado há algumas semanas nos cinemas brasileiros. A narrativa mostra uma estudante de colegial que ganha do pai uma caixa chinesa que afirma que realiza pedidos, a um custo. A cada solicitação atendida, uma pessoa próxima da dona do objeto morre.
Embora não seja lá um grande filme, a obra de Leonetti serve para mostrar que, mesmo após 115 anos da publicação original, o conto de Jacobs permanece bem vivo no nosso imaginário cultural. Talvez isso ocorra porque o alerta sobre como devemos desconfiar sobre o custo do que nos é oferecido gratuitamente também continua bastante atual.
Eu lembro de ter visto um seriado na Globo, nos anos 80, que era uma adaptação deste conto. Acho que um foi dos primeiros produtos audiovisuais de terror a que assisti e morri de medo. Gostaria muito de rever!