Vencedor do DocLisboa 2015, Rio Corgo, produção da dupla luso-suíça Maya Kosa e Sérgio da Costa, teve calorosa recepção em Berlinale, onde foi exibido na mostra Forum deste ano.
Rio Corgo acompanha os últimos passos da história de vida do senhor Joaquim Silva, que por sua maneira peculiar de se vestir – sombreiro, botas, bengalas e anéis – ficou conhecido como “Sr. Espanhol”. O senhor Silva já fez de tudo na vida. Foi pastor, jardineiro, palhaço e mágico, porém, como eles mesmo diz, “agora não sou nada”.
Andando de vila em vila, ele coleciona aversões a si, pessoas que evitam este andarilho estranho. Isso até que ele conhece Ana, uma jovem com quem cria uma boa relação de amizade, movida particularmente pelo seu fascínio por este homem com história de vida tão ímpar. Acontece que Silva é, realmente, um personagem complexo, um Quixote às avessas. Sua mente é povoada pelas memórias de uma antiga amante, Carolina.
Neste bate-bola entre ficção e realidade – onde as fronteiras são excessivamente frágeis – suas visões, suas crises e seus fantasmas por vezes se confundem, quase como se sua própria vida também pudesse ser encarada como fruto destas fantasias.
Neste bate-bola entre ficção e realidade, suas visões, suas crises e seus fantasmas por vezes se confundem, quase como se sua própria vida também pudesse ser encarada como fruto destas fantasias.
Rio Corgo faz bom uso da paisagem, que é explorada muito mais do que como cenário. O rio Corgo é um dos afluentes do rio Douro, e nasce em Vila Pouca de Aguiar, uma vila portuguesa do Distrito de Vila Real, na região norte do país. No longa de Kosa e Costa, o rio assume papel preponderante na narrativa, acrescentando plasticidade.
Em linhas gerais, Rio Corgo aborda o legado, a luta entre o efêmero e o eterno. Os diretores tratam Silva com profundo respeito e admiração. Ele é um personagem poderoso, complexo e frágil ao mesmo tempo. A câmera de Kosa e Costa acompanha este homem a quem o passado interessa mais que o futuro, em um jogo de cena que um representa o outro. Afinal, que é da humanidade sem a história que construa um futuro? Resta, por fim, com os altos e baixos e este embate entre razão e fantasia, uma certa melancolia no ar.
Rio Corgo tem uma segunda exibição no domingo, 12, às 18h45, no Espaço Itaú.
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