Perdidos em meio ao nada, no vácuo, no vazio, no lugar de ninguém. Fog (Neblina, Nicole Vögele), nos leva para um mundo de questionamentos pessoais desencontrados, perdidos em meio à névoa e a impossibilidade de enxergar adiante.
A existência de cada ser humano é um campo nebuloso cheio de passos em falso, aspirações e decepções. Mais que a condição humana, Fog fala sobre a busca. A busca que todos nos fazemos para nos definirmos enquanto sujeito, aqueles cuja existência necessita de significado.
O problema de Fog é que, apesar de ser um bom filme, sua construção sugestiva entre a neblina e nossa busca interior acaba soando por demais óbvia.
Abrindo um questionamento se o que traz valor à vida é o encontro ou a busca em si, este documentário nos introduz um astrônomo que sonha encontrar vida em outros planetas, o músico que aspira encontrar a mulher de sua vida e todas as suas canções ecoam pelo vento como um chamado na esperança de que alguém escute.
Através de ruídos naturais e mecânicos, o filme trabalha texturas imagéticas que, se fecharmos os olhos, nos permitem ouvir nosso murmúrio interior. Desta forma, quase conseguimos ouvir o que ele pede, exige, comanda.
O problema de Fog é que, apesar de ser um bom filme, sua construção sugestiva entre a neblina e nossa busca interior acaba soando por demais óbvia. Não deixa de ser uma experiência interessante, porém óbvia.
Nicole Vögele, a diretora, parece fazer parte de uma gama de cineastas contemporâneos cujo excesso de referências acabou condicionando-os a obrigatoriedade de produzir em alta escala produtos audiovisuais altamente originais mas que, no exagero de maneirismos estéticos e linguísticos já utilizados à exaustão não os permite libertar do lugar comum.
A busca desesperada por unicidade, e uma provável limitação criativa, construíram uma narrativa que tenta ser profunda, mas numa análise mais complexa, mostra-se superficial. Fog vale mais pela experimentação de sons diegéticos e texturas discursivas do que a tentativa manjada da imersão no Eu.
É um tanto frustrante essa limitação que muitos jovens realizadores se impõem na aspiração narcisista de entrarem para os livros de história do Cinema como os novos Godards e Truffauts. O ego cega uma arte que poderia ser muito mais revolucionária se a experimentação estética e discursiva aceitasse caminhar com mais liberdade criativa mais focada na essência do artista que no exibicionismo esteta contemporâneo.
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