Ano passado, o cineasta cearense Guto Parente saiu da quarta edição do Olhar de Cinema com uma menção honrosa do júri, concedida a seu longa anterior, o sexto em sua carreira, com o intrigante A Misteriosa Morte de Pérola, rodado na França. Ele volta a Curitiba hoje, e à mostra competitiva do festival, com O Estranho Caso de Ezequiel, mais uma incursão no cinema fantástico, no qual ele também dialoga com o gênero terror, mas sempre de forma muito sutil, plástica.
Hábil na construção de atmosferas, Parente retorna ao território do invisível, da ameaça à espreita, mas que não se anuncia por completo e é sugerida ao poucos, envolvendo o espectador, e de certa forma manipulando sua percepção, o enredando. Essa é uma marca do cinema do diretor.
Desta vez seu protagonista é Ezequiel, um homem que, como Pérola, também está imerso na solidão, em uma quase alienação, que parece ser decorrência do esfacelamento de seu estado emocional: sua mulher morreu e a perda o tornou extremamente vulnerável. Esse estado nos faz duvidar de sua sanidade.
Hábil na construção de atmosferas, Parente retorna ao território do invisível, da ameaça à espreita, mas que não se anuncia por completo e é sugerida ao poucos, envolvendo o espectador aos poucos, de certa forma manipulando sua percepção, o enredando.
É por conta dessa instabilidade psicológica, que se materializa de forma surpreendente na estética muito original, e algo onírica dos filmes de Parente, que se estende da direção de arte à fotografia.
É sempre difícil estabelecer um limite entre o que é real e o que pode ser projeção da subjetividade do Ezequiel, vivido por um impressionante Euzébio Zloccowick. Seu desempenho é peça fundamental no filme, construído muito em torno de sua expressividade contida, e ambígua, em certa medida.
Há uma reviravolta na trama, que altera o rumo da vido do personagem. O que não pode de forma alguma ser revelado aqui, mas vale dizer que Parente, não está apenas a brincar com o destino de seu personagem central. Somos um pouco Ezequiel– o diretor sabe muito bem o que está fazendo. Seu filme é uma experiência estética.
O Estranho Caso de Ezequiel tem sua primeira exibição hoje, às 19h30, no Espaço Itaú.
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