Nesta graciosa obra de Raquel Valadares, temos a oportunidade de conhecer seu Anísio. Anísio Campos é um designer de carros responsável pela produção artesanal de mais de 15 automóveis dos anos 1960 a 1990. Este artista automobilístico, já por volta dos seus 80 anos, está ficando louco com a bagunça de seu apartamento, pois não sabe mais onde enfiar tantos arquivos que armazena desde o início de sua carreira, e sua filha, Raquel, diretora do filme, decide ajudá-lo a organizar e a jogar fora o que não tem mais valor. Inicia assim, uma jornada pelo passado desde senhor que, em meio a papéis amassados e desenhos antigos, revive seus tempos de glória.
Homem-Carro é o tipo de filme gostoso. Não há outra palavra que possa definir tão precisamente este documentário nostálgico. Colocar um homem que já nada esquecido perante fotos de sua juventude, de carros que fez com as próprias mãos, recortes de jornais e imagens dos próprios filhos pequenos, estimulam sua memória e sua necessidade de criar novamente.
Mais que uma obra de memórias pessoais, Homem-Carro é um filme sobre a relação de Raquel com seu pai.
Mais que uma obra de memórias pessoais, Homem-Carro é um filme sobre a relação de Raquel com seu pai. A admiração dela e a decisão de documentar a vida do homem que a criou é um retorno aos dias de garotinha, em que seu pai era seu herói (talvez nunca tenha deixado de sê-lo). Junto a seu Anísio, o espectador sente saudade de momentos que não viveu, faz uma viagem aos seus próprios dias de sonho e pais gigantes.
Como mencionado anteriormente, é gostosa a sensação de vida vivida que o filme passa. Sentimo-nos em casa, o apartamento de Anísio passa a ser nosso, a bagunça também começa a incomodar, queremos colocar todas aquelas histórias em ordem como um dia faremos com as nossas. A poesia está nas mãos firmes deste velhinho de pernas já um tanto desconjuntadas, que na hora de desenhar nunca erra as medidas… ou quase. Cabelinhos brancos, meiões, óculos de grau, manias e reclamações bobas sobre problemas facilmente resolvíveis, acompanhamos o passado de uma pessoa que é a personificação de nosso próprio futuro.
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