Se tem uma coisa difícil de fazer é unir drama e comédia de forma inteligente sem parecer forçado. Fica ainda mais difícil quando você quer construir um humor sombrio, que não seja ofensivo e faça rir. Tudo isso ainda precisa vir com bom roteiro e história original. Barry, comédia da HBO, consegue fazer todas essas coisas de maneira louvável, sendo tão boa ou melhor que outras séries do gênero, como Fargo, Baskets ou Six Feet Under.
A razão pelo sucesso de Barry é que mesmo parecendo que você já viu essa história antes (seria um Dexter cômico?), tudo soa original e esquisito. Criada por Alec Berg (Curb Your Enthusiasm) e Bill Hader (Saturday Night Live), a série acompanha a vida de Barry (Hader), um ex-fuzileiro com sérios problemas de personalidade e depressão, que trabalha como assassino de aluguel para Fuches (Stephen Root, ótimo), um cara que parece gostar muito desse tipo de trabalho e admira o talento de Barry para matar.
Solitário e insatisfeito com sua rotina, Barry se muda para Los Angeles com a missão de assassinar mais uma pessoa por encomenda. O “problema” é que Barry acaba se envolvendo, sem querer, com um grupo de teatro que reúne diversos atores querendo um lugar ao sol em Hollywood. De repente, Barry começa a criar laços com aquelas pessoas e pegar amor pelo teatro, mas as coisas se complicam quando ele tenta administrar sua profissão com a arte.
O que impressiona na série é a dificuldade em definirmos o que estamos vendo. É engraçado, mas é assustador. É leve, mas é pesado.
Em seus oito excelentes episódios, os roteiristas conseguem fazer com que todos os personagens ganhem complexidade, algo difícil em uma comédia. Num primeiro momento, a série prefere ignorar a coerência para criar momentos hilários, mas logo depois o que parecia nonsense começa a ganhar ares sombrios, com cenas de violência explícita e momentos de muita tensão, o que deixa tudo interessante, original e viciante.
É essa estranheza que faz de Barry uma das melhores dramédias do ano, ao lado de Killing Eve, que tem uma proposta parecida. O que impressiona na série é a dificuldade em definirmos o que estamos vendo. É engraçado, mas é assustador. É leve, mas é pesado. Tudo parece ser uma paródia das outras séries, mas ao mesmo tempo aquelas piadas carregam um fundo de reflexão.
Os roteiros dos episódios jamais parecem inseguros, perdidos ou enrolados. A série poderia acabar após os oito primeiros episódios, mas também pode continuar por muito tempo. Fica difícil para o público saber o que vai acontecer a seguir, já que a produção consegue surpreender e apresentar situações que nunca soam previsíveis.
As atuações são outro destaque. Bill Hader passa de um cara frio e calculista para uma pessoa atormentada e arrependida de maneira brilhante, engraçada, emocionante e assustadora, tudo ao mesmo tempo. Sarah Goldberg, que interpreta Sally, consegue passar todo egoísmo de uma atriz aspirante em Hollywood, ao mesmo tempo em que carrega frustrações ao perceber a dura realidade de todos os atores em Los Angeles. Todo o elenco de apoio brilha e a série carrega um humor sutil na maior parte do tempo e são nos detalhes que a série faz gargalhar.
Indicada ao Emmy de melhor série cômica este ano, Barry é uma forte candidata a sair com a estatueta. Com piadas espertas aliadas a um thriller de tirar o fôlego, a série da HBO é uma das experiências mais estranhas e imperdíveis do ano.