Bates Motel sempre foi irregular. Se a primeira temporada mostrou que uma série sobre a adolescência do icônico personagem Norman Bates era possível, as outras perderam bastante tempo com tramas paralelas sonolentas, que afastaram boa parte de público. O terceiro ano (leia a crítica aqui) acertou ao colocar Norman cada vez mais dependente de sua mãe e mais próximo de sua doença, mas novamente errou com seus enredos secundários, que tomavam boa parte do tempo e não tinham quase nenhuma relação com a trama principal. Porém, parece que agora a série criada por Carlton Cuse (Lost), Kerry Ehrin e Anthony Cipriano voltou aos trilhos. Os quatro primeiros episódios de Bates Motel já exibidos conseguem redimir seus erros, no que, se continuar neste caminho, poderá ser a melhor temporada da série.
Diferente dos outros anos, Norman (Freddie Highmore) já começa perigoso. Norma (Vera Farmiga) finalmente entende que seu filho tem um problema psicológico e o interna em uma clínica de reabilitação mental, enquanto a relação dos dois fica ainda mais estranha a medida que o destino de Norma – visto nos filmes – se aproxima. Há, ainda, algumas tramas paralelas envolvendo o irmão de Norman, Dylan (Max Thieriot), Emma (Olivia Cooke) e o Xerife Romero (Nestor Carbonell), mas a grande diferença é que o plot parece afetar os personagens centrais, não sendo apenas um artifício para encher linguiça.
Assim, Bates Motel se aproxima, cada vez mais, das suas raízes psicóticas. Ainda que seja óbvio que não veremos Norman psicótico em sua totalidade (a série já foi renovada para uma quinta temporada), os roteiristas parecem ter aprendido a guiar a história de forma inteligente. Ao público interessa mais a relação mãe e filho do que a velocidade na qual essa história possa ser contada. Assistir às atuações de Freddie Highmore e Vera Farmiga são um presente. Enquanto Farmiga sempre entrega atuações detalhistas, dignas de prêmios, Highmore se mostra um dos melhores atores da atualidade, não devendo nada ao ator original, Anthony Perkins. Desde seus traços, movimentos e olhares, Highmore assusta sem soar forçado.
Assim, Bates Motel se aproxima, cada vez mais, das suas raízes psicóticas. Ainda que seja óbvio que não veremos Norman psicótico em sua totalidade.
Há, também, um maior cuidado na construção do psicológico dos personagens. Norman aparece cada vez mais inclinado a ser um assassino, mas o público entende o que se passa dentro de sua cabeça e o que o levou àquele estado de demência. Enquanto isso, o roteiro parece perdoar um pouco Norma, já que a tendência do filho à psicopatia parece ter vindo muito de sua dependência com Norman. Há, ainda, inclinações incestuosas que causam estranhamento não somente aos personagens, mas ao público, que começa, tal como Norman, a duvidar do que é real e do que é imaginação.
Há, claro, alguns deslizes. O roteiro parece exagerar algumas situações apenas para criar uma atmosfera angustiante – como a clínica de reabilitação pública em que Norman se encontra no primeiro episódio, estereotipada ao máximo – ou forçar situações para resolver alguns problemas na narrativa – como a forma em que Norma encontra para conseguir um plano de saúde para o filho. As tramas paralelas, mesmo que não tão tediosas como no passado, ainda precisam encontrar uma linearidade para não se perderem em plots que distraem o que faz da série interessante: a trajetória de Norman.
Mas se esquecermos as tramas secundárias das outras temporadas, é possível perceber um cuidadoso trabalho com os personagens centrais, especialmente com o psicológico de Norma e Norman. E, se continuar assim, o quarto ano será mais estranho, angustiante e assustador, exatamente o que se espera de Bates Motel. Alfred Hitchcock deve estar orgulhoso.