Se há uma série que enfrenta sérios desafios o nome dela é The Big Bang Theory. Mas sejamos claros: boa parte destes desafios devem-se às escolhas criativas de Chuck Lorre e Bill Prady. A série, que está no meio de sua décima temporada, surfou a última grande onda das séries de humor com claque, e surgiu no período pré-serviços de streaming. À época de seu surgimento, séries de humor inteligente como Veep, Unbreakable Kimmy Schimidt e Parks and Recreation ainda não dominavam o entretenimento televisivo.
Pense, nos dias atuais, uma série de humor com claque obter o mesmo sucesso que The Big Bang Theory e atingir 10 temporadas. Isso é quase uma ilusão. Tanto é que a maioria tem naufragado nos últimos anos, ainda que volta e meia uma série consiga ir adiante. E este é, justamente, o outro grande desafio que Leonard, Sheldon e companhia precisam enfrentar: muito tempo na TV causa fortes dificuldades de conseguir evoluir trama e personagens. É por isso que a série enfrentou umas temporadas bem duras de serem digeridas, jogando na cara do público um humor óbvio, clichê e cópia de si mesmo.
Mas nada disso teria sido possível se não tivessem tomado uma grande e importante medida: tornar Sheldon um personagem que brilha na mesma intensidade que os demais.
Isso passou a mudar já no final da nona temporada, mas é com a décima que vimos a equipe de roteiristas de Lorre e Prady se esforçar de verdade em entregar piadas que consigam tirar de nós um riso sincero e não aquele amarelo de quase-vergonha pelo que está assistindo, uma espécie de pena dos atores e envolvidos com o show.
Ainda que não tenhamos visto nenhum personagem sumir, o que faria a série sofrer um chacoalhão e tomar novo rumo, personagens pontuais passaram a ser recorrentes, equilibrando uma equação que sofria constantemente, em especial com Raj e Howard. O nascimento da filha de Howard também acrescentou uma pitada de comicidade à série, porque mesmo que as piadas não sejam de todo novas (a dificuldade dos pais em cuidar do bebê recém-nascido; o cansaço constante; etc), o tratamento que recebe (como a semelhança do choro do bebê com a falecida mãe de Howard) é tranquilamente capaz de arrancar boas risadas.
A equipe de The Big Bang Theory foi além, equilibrando a bizarra relação entre Raj e Stuart, o novo “casal”, e o bebê com a crise no relacionamento de Penny e Leonard. Mas nada disso teria sido possível se não tivessem tomado uma grande e importante medida: tornar Sheldon um personagem que brilha na mesma intensidade que os demais. Esta foi uma decisão difícil, já que não era programado que ele tornar-se-ia o grande ícone que foi nos últimos anos, ganhando Emmy e Globo de Ouro como melhor ator de série de comédia. Essa mudança vinha sendo ensaiada nos últimos 3 anos, mas só agora a equipe de roteiristas encontrou o equilíbrio capaz de não fazer Jim Parsons ofuscar seus colegas e tampouco desaparecer seu humor.
Com mais da metade da décima temporada já exibida, o atual desafio é lutar pelo melhor dia de audiência. Com muitas séries e serviços de streaming, a CBS vem tentando encontrar o melhor dia para o programa. A série que passou suas três temporadas iniciais comandando as segundas-feiras, e outras quatro às quintas, agora é dividida entre segundas (primeira metade) e quintas (segunda metade).
Pode não ser a melhor série de humor da atualidade (ainda que tenham fãs fervorosos que pensem diferente), mas a verdade é que The Big Bang Theory voltou a fazer rir e merecer, ao menos, a nossa atenção por mais alguns episódios. Afinal, o mundo está precisa de (muito) humor.