De início, preciso fazer um esclarecimento. Séries policiais, em geral, me dão sono, salvo algumas exceções. Southland é uma delas. Uma série marcante para os que assistiram, porém, pouco conhecida. Para quem não sabe, Southland faz parte do abençoado grupo seleto de produções injustamente canceladas que foram salvas por outras emissoras. Devido ao baixo número de audiência, o drama da NBC, que mostrava o dia-a-dia dos policiais de Los Angeles, foi cancelado logo após o término de sua brevíssima primeira temporada. Porém, seu roteiro primordial foi suficiente para conquistar os chefões do canal TNT, que decidiu oferecer um novo lar para a série, apostando no drama dos membros da LAPD. A série durou mais quatro temporadas, chegando a seu fim definitivo após o quinto ano.
“Primordial” é um termo complicado de se usar, pois pode dar a impressão de que trata-se de um roteiro único e superior a tudo que já foi desenvolvido para a televisão, o que poderia causar certo incômodo nos saudosos fãs de The Wire, drama da HBO considerada por alguns críticos especializados a melhor série policial de todos os tempos. Entretanto, é difícil analisar Southland sem começar elogiando seu roteiro muito bem construído, que ilustrava a árdua rotina de um grupo de policiais e detetives de Los Angeles, trazendo sempre um interessante contraponto entre a vida profissional e pessoal desses policiais. Interpretado por Benjamin McKenzie (The OC), Ben Sherman era o pseudo protagonista da série. “Pseudo” pois, apesar de ter o rosto de Ryan Atwood estampado nos pôsteres das série (uma forma não eficaz de atrair a audiência), Southland era uma produção com quatro grandes personagens.
Talvez essa verossimilhança tenha sido a grande maldição da série.
O primeiro, já citado, era o jovem que acabara de entrar para a corporação. Sua inexperiência era o que aproximava o telespectador ao universo visto na tv pois, junto a Sherman, vamos descobrindo o que é ser um policial em uma cidade grande. E tudo isso graças aos ensinamentos de seu respeitável mentor John Cooper. Paralelamente a esse núcleo temos Sammy e Nate, uma dupla de detetives cuja amizade retrata uma cumplicidade única. E por fim temos Lydia Adams, a competente detetive que vê na profissão uma forma de aliviar as frustrações da vida pessoal.
A evolução da série, assim como o desenvolvimento de seus personagens principais, é contínua e sutil. Entre tiroteios, perseguições e investigações, aos poucos somos apresentados ao passado de Lydia, as motivações de Sherman para seguir a carreira policial, os problemas domésticos de Sammy e o complexo conflito interno de Cooper, vivido com maestria por Michael Cudlitz (The Walking Dead), um exemplo de profissional que, quando deixa o distintivo de lado, afoga as mágoas em medicamentos. Cooper talvez seja o personagem mais complexo e intrigante da trama, mostrando duas personas completamente distintas: o policial referência na corporação vs. o sujeito traumatizado e viciado que tem problemas em mostrar para os colegas de trabalho que é gay.
Além do elenco competente e entrosado, um dos maiores trunfos da série é a veracidade com que as situações eram apresentadas. Os conflitos vistos, na maioria das vezes, eram os mesmos que estamos acostumados a acompanhar diariamente nos jornais, porém, a câmera tremida e o uso de locações reais, semelhante ao estilo visto em Friday Night Lights, eram seus grandes diferenciais entre os dramas do gênero, já que esse ar documental fazia com que os conflitos vistos parecessem os mesmos vistos nos noticiários. Talvez essa verossimilhança tenha sido a grande maldição da série. Uma vez que a maior parte dos telespectadores procura a ficção como forma de escapar das tragédias do dia-a-dia, a realidade crua apresentada em Southland pode ter afastado aqueles que buscavam uma série policial com uma trama romântica e lúdica para relaxar.