Programas de transformação já são batidos na televisão. Os chamados makeovers seguem uma estrutura básica de pegar alguém com determinados problemas — sejam sociais, de vestimenta, moradia, beleza — e ajudá-lo a se recompor de acordo com o que programa considera ser o ideal de vida. Nisso, a nova versão de Queer Eye não inova, em algum momento chega a ser até bem previsível. Mas o que faz do reality tão especial é que, por trás de toda as ações transformadoras, o que importa mesmo são as histórias daqueles personagens e como cada um reflete sobre sua vida e sua visão de mundo.
Repaginada do vencedor do Emmy Queer Eye for the Straight Guy, de 2003, o reality segue a mesma linha, mas agora, ao invés de lidar somente com homens héteros (embora sejam a maioria), Queer Eye também tenta dar uma ajudinha para homens gays, que parecem precisar de um rumo na vida e que, no caso deste episódio, têm problemas de aceitação. Ao não fechar o leque, o programa abre espaço para histórias enriquecedoras e evita cair no estereótipo de que todos os gays são fashionistas, espalhafatosos e confiantes.
Cinco homens, cada um especializado em uma área diferente (vestuário, culinária, higiene pessoal, cabelo, design de interiores, cultura), tentam ajudar outro homem a organizar a vida. Karamo, Antoni, Bobby, Jonathan e Tan são os novos Fab Five, e com um entrosamento que jamais soa forçado, os amigos vão interagindo com personagens peculiares e diferentes uns dos outros.
Ao não fechar o leque, o programa abre espaço para histórias enriquecedoras e evita cair no estereótipo.
Assim como os próprios produtores disseram, se no início dos anos 2000 eles buscavam tolerância, agora buscam aceitação. É válido lembrar que, quando a primeira versão do programa estreou, George W. Bush era presidente, casamento gay era proibido e lutar pelos direitos LGBT+ era mais revolucionário do que hoje. Se toda a mudança de roupa, cabelo e decoração ainda dão agilidade à narrativa, são nos discursos e diálogos que a série ganha força. Nesse quesito, a nova versão é infinitamente melhor do que o seu original, que trabalhava o estereótipo gay de maneira um pouco incômoda e sempre dava a impressão de que héteros são burros e sem noção.
Por isso, o que mais impressiona em Queer Eye é sua capacidade do olhar humano. Os cinco atores principais são humildes e não tentam ofuscar o verdadeiro objetivo do programa, que é ajudar o outro. Assim, fica muito fácil chorar com os personagens que vão surgindo, porque eles são tratados com respeito e cuidado. Mesmo que no início haja uma clara tentativa de fazer humor, no decorrer dos episódios há uma delicadeza para que eles não mudem a personalidade daqueles homens, mas apenas faz com que eles encontrem a luz no fim do túnel que somente eles não viam.
Com um grande acerto no roteiro, em nenhum momento o público se sente enganado ou manipulado, já que as reações são verdadeiras e o tom político do programa faz dele algo relevante não somente para o período crítico dos Estados Unidos, mas para todo mundo. Queer Eye, no fim, mostra que nós temos diversas oportunidades para aprender, crescer e conhecer o outro a fim de melhorarmos nossa percepção das coisas. Basta exercitarmos a empatia, algo cada vez mais complicado, seja no mundo hétero ou gay.