Uma das gratas surpresas do mundo das séries televisivas, The Girlfriend Experience é uma boa aposta do canal de TV estadunidense Starz e aqui no Brasil lançada pelo FOX+. Criada por Lodge Kerrigan e Amy Seimetz, The Girlfriend Experience é uma série com inspiração na obra de mesmo nome de Steven Soderbergh lançada em 2009.
The Girlfriend Experience acompanha a vida de Christine Reade (interpretada por Riley Keough, de Mad Max: Estrada da Fúria), uma estudante de direito que decide se aventurar no mundo das garotas de programa de luxo ao mesmo tempo que acaba de entrar em um disputado programa de estágio de um dos principais escritórios de advocacia de Chicago. Sua incursão no ramo acontece ao saber que uma amiga participa de uma agência especializada no serviço e que fatura uma boa quantidade de dinheiro com isto.
A grande questão é que a série se desenvolve sem ter pretensão de debater a prostituição e, sim, mais focado no impacto dos acontecimentos que se relacionam com isto. Christine é uma mulher forte, ciente de sua beleza e do poder que ela exerce sobre os homens, mas é sua enorme inteligência que faz com que sua personagem torne-se complexa e muito interessante. Ela vive dividida entre o direito e seu estágio, que não parece querer largar, e o trabalho como garota de programa “estilo namorada”, um modelo em que o envolvimento emocional caminha juntamente à relação sexual e o dinheiro que estabelece essa relação comercial, em que atua sob o codinome de Chelsea Rayne.
A direção é primorosa, privilegiando enquadramentos raros na televisão, enquanto a direção de fotografia e de arte são verdadeiramente incríveis. Contudo, sequências que talvez causassem bastante impacto no cinema ganham contornos de soft porn na televisão.
Em seu estágio ela se vê em uma redoma de corrupção e subornos em âmbito jurídico, enquanto precisa lidar com pequenos problemas que surgem de seu trabalho como acompanhante, geralmente causados por homens casados que extrapolam os limites e criam por ela um encanto, uma paixão, e acabam sendo descobertos pelas esposas.
É claro que afirmar que The Girlfriend Experience é uma surpresa não faz com que ignoremos as falhas da série. Se Seimetz é reconhecida como uma das diretoras mais proeminentes do cinema independente estadunidense, ao passo que Kerrigan também é visto como um cineasta ambicioso, todo o talento da dupla acaba sendo submetido aos limites (ainda rígidos) do formato seriado.
A direção é primorosa, privilegiando enquadramentos raros na televisão, enquanto a direção de fotografia e de arte são verdadeiramente incríveis. Contudo, sequências que talvez causassem bastante impacto no cinema ganham contornos de soft porn na televisão. Elas agregam uma carga dramática e de realidade ao programa – ainda que não explícitas, existem cenas de masturbação, sexo oral, anal e sadomasoquismo insinuadas -, mas tendem a serem repetitivas ao longo dos treze episódios que compõem a primeira temporada.
Riley Keough está deslumbrante em sua atuação e não tem responsabilidade pelos deslizes do script. Ela consegue criar uma personagem fria e calculista cheia de fissuras, que volta e meia se acentuam fazendo com que ela desabe emocionalmente, oferecendo momentos riquíssimos aos telespectadores. Vale a menção que Keough é filha de Lisa Marie Presley (do casamento com Danny Keough, o primeiro da cantora) e, consequentemente, neta de Elvis Presley.
Inicialmente imaginada como uma minissérie, The Girlfriend Experience rendeu bons número à emissora, que decidiu por lhe garantir uma segunda temporada com quatorze novos episódios. Se o tema central continuará sendo a rede de sexo baseada no “estilo namorada”, não se pode dizer o mesmo do elenco, que reunirá outros atores para que uma nova história seja contada.