Brooklyn Nine-Nine chegou de forma despretensiosa ao canal FOX, talvez por conta da crise criativa que abala as emissoras de TV aberta nos Estados Unidos. Acontece que o seriado, no Brasil transmitido pelo canal a cabo TBS, tinha na equipe três pessoas que poderiam fazer a diferença. E fizeram.
Dan Goor, Michael Schur e Andy Samberg são nomes proeminentes da TV norte-americana nos últimos anos. Dan foi roteirista do The Daily Show (onde venceu um Emmy em 2001) por três temporadas, ficou outras cinco no Late Night with Conan O’Brien e duas em Parks and Recreation, onde fez amizade com Schur, produtor e roteirista da série. Michael ainda foi roteirista do The Office por duas temporadas e ficou incríveis sete temporadas em Saturday Night Live. E foi neste último que Michael Schur conheceu Andy Samberg, o garoto prodígio de Berkeley que ganhou espaço na TV ao ficar onze anos em um dos programas mais longevos da televisão dos Estados Unidos.
Juntos os três deram a Brooklyn Nine-Nine o Globo de Ouro de melhor série de televisão – comédia e musical logo em sua primeira temporada, no ano de 2014. Não fosse o bastante, Samberg levou o troféu de melhor ator em série de televisão – comédia e musical, desbancado Jim Parsons, de The Big Bang Theory, o grande favorito. Mas afinal, apenas os três e nada mais têm responsabilidade por esse sucesso meteórico? Longe disso.
Brooklyn Nine-Nine acompanha a fictícia 99ª delegacia de polícia no distrito do Brooklyn, em Nova York. Samberg é Jake Peralta, um detetive que ama o seu trabalho, mas o leva não tão a sério. A rotina da delegacia, e consequentemente de Peralta, é alterada quando assume a chefia o Capitão Raymond Holt (Andre Braugher, que além de fantástico, já foi indicado três vezes ao Emmy de melhor ator coadjuvante em série de TV – comédia e musical por seu papel). Holt é severo, não ri, não se envolve nas trapalhadas de sua equipe e leva tudo (tudo mesmo!) muito a sério.
Entre as tantas respostas possíveis para o sucesso da série, uma delas é bem óbvia. Seriados e programas policiais são há anos febre nos canais norte-americanos. Law & Order (e todas suas derivações), CSI, Criminal Minds, Rookie Blue e Chicago P.D. são apenas alguns dos inúmeros títulos que abarrotaram os canais nos últimos anos (não podendo esquecer de NYPD Blue, conhecida por aqui como Nova York Contra o Crime).
Brooklyn Nine-Nine não perde tempo e escracha todos os clichês (e estereótipos) presentes em shows policiais, além de unir um elenco que se mostrou craque em fazer rir.
Dentro deste contexto, Brooklyn Nine-Nine não perde tempo e escracha todos os clichês (e estereótipos) presentes nestes shows policiais. Para arrematar, conseguiram unir um elenco que se mostrou craque em fazer rir, cada um representando um estereótipo dos programas anteriormente citados.
Amy Santiago (Melissa Fumero, de Gossip Girl) é a policial fiel a seu chefe, a quem vê como mentor e a quem procura agradar de todas as formas; Charles Boyle (Joe Lo Truglio, de Wet Hot American Summer: First Day of Camp) é o melhor amigo de Jake e um policial que leva uma vida difícil, principalmente após seu divórcio; Gina Linetti (Chelsea Peretti) é a assistente do Capitão, sempre se envolvendo nos casos da equipe e mantendo uma postura de superior frente aos outros; Rosa Diaz (Stephanie Beatriz) é a policial casca grossa, chegada em métodos violentos e sem muitas habilidades sociais, mas que no íntimo é menos rude; Scully (Joel McKinnon Miller) e Hitchcock (Dirk Blocker) são os policiais mais velhos da equipe e a dupla de estabanados com quem ninguém se interessa em trabalhar; já Terry Jeffords (Terry Crews) é o policial que enfrenta uma rotina dupla entre ser um bom sargento (o primeiro posto abaixo do capitão) e um pai e marido presente, o que faz com que ele viva constantes conflitos.
Sem dúvida que o roteiro afiado e as piadas ácidas com o universo policial também dão consistência ao programa, de forma que, mesmo sem ganhar mais nenhum prêmio na segunda e terceira temporadas, Brooklyn Nine-Nine conseguiu evoluir e seguir fazendo rir a audiência, ainda que a última temporada tenha sido um tanto irregular.
Com a estreia da quarta temporada prevista para setembro deste ano, você pode entender as razões que a fazem uma das melhores comédias da atualidade vendo as duas primeiras na Netflix. Não se assuste: apesar de as temporadas serem longas (mais de 20 episódios em cada), os capítulos são curtos, não ultrapassando muito a marca de 23 minutos. E você vai rir tanto que nem notará quando eles acabarem. Aliás, irá é querer ver mais.