No dia 6 de dezembro de 2006, Tair Rada, uma garota adolescente de 13 anos, foi normalmente à escola. O que deveria ser mais um dia normal de aula para Tair acabou se tornando seu último dia de vida. A menina foi assassinada brutalmente no banheiro da escola, com vários cortes pelo corpo e jogada em cima do vaso sanitário, com a cabine fechada por dentro. É a partir daí que Sombras da Verdade, chocante série documental israelense disponível na Netflix, vai contar uma história assustadoramente real em que não só a injustiça é discutida, como todo o sadismo do ser humano.
Sombras da Verdade foi desenvolvido por três cineastas novatos de Israel – Yotam Guendelman, Ari Pines e Mika Timor. Na época de seu lançamento, o documentário foi o mais aclamado da história de do país não apenas pela sua capacidade de gerar reações chocantes no público, mas por reabrir uma discussão entre a opinião pública, a polícia e todo o sistema judiciário de Israel. Da mesma forma que Making a Murderer, The Jinx e The Keepers, Sombras da Verdade ilumina algo que as autoridades queriam deixar no escuro.
Utilizando diversas entrevistas entre as pessoas que estiveram envolvidas no caso, Sombras da Verdade não tem medo de mostrar imagens fortes ou descrever cenas perturbadoras. Montada de forma instigante, a série documental vai levando o público a conclusões que parecem encerrar o caso, para logo depois desmantelar cada uma delas, levando o espectador a questionar diversas possibilidades. Será mesmo que o acusado pela polícia matou aquela garota? E por que não investigaram mais as pessoas dentro do colégio? Como ninguém ouviu nada? Por que nem a mãe acredita na conclusão da polícia? Por que ignoram depoimentos relevantes?
Sombras da Verdade também mostra como o crime separou e mudou a dinâmica de um bairro tranquilo de Israel.
Sombras da Verdade também mostra como o crime separou e mudou a dinâmica de um bairro tranquilo de Israel. Quando a polícia se recusa a reabrir o caso depois que diversas novas evidências surgem, aquela comunidade começa a se perguntar se realmente estão seguros. Outro fator interessante, especialmente após a distribuição mundial da série pela Netflix, é a possibilidade de humanização daqueles “personagens”. Bem longe do estereótipo que vemos na mídia sobre o Oriente Médio, todas aquelas pessoas, situações e conflitos são tão reais e próximas de nós que a história poderia se passar facilmente em qualquer lugar do mundo.
Se as três primeiras partes chocam ao mostrar o rumo da investigações e as estranhezas do caso, é a última parte deixa o público em choque. Não darei spoiler aqui, mas é interessante perceber como temos a capacidade de descartar o absurdo logo de cara para nos atentar a fatos concretos, colocando uma viseira para não olhar para o lado. Ao mesmo tempo, os absurdos vistos no último episódio não deixam nenhuma conclusão, mas sombras de verdades e dúvidas frequentes.
Com uma reviravolta de gelar a espinha, Sombras da Verdade pode ser visto como uma série de investigação sobre um caso policial ou sobre como humano pode ser sádico. Mas, acima de tudo, o documentário é a voz de uma adolescente morta sem qualquer possibilidade de defesa e a voz de pais que ainda clamam por justiça. O final deixa muito mais perguntas do que respostas, mas num caso em que conclusões foram postas à mesa com tanta rapidez, deixar perguntas em aberto talvez seja o principal objetivo.