Não espere reflexões profundas, diálogos inspirados ou roteiro linear. Ao invés disso, Riverdale, série da CW baseada na HQ A Turma do Archie, reúne o que há de melhor em séries adolescentes: o amadurecimento precoce, colégios com armários, narração de determinado personagem com mensagens poéticas, futuros incertos, namoros proibidos, atores lindos e com corpos sarados e uma história viciante o suficiente para manter a curiosidade mesmo com as inúmeros inconsistências na narrativa. O que difere Riverdale de Pretty Little Liars, Gossip Girl ou 13 Reasons Why é que as cenas são muito mais estilizadas, tentando resgatar a essência das HQs do final dos anos 60 em uma Twin Peaks para jovens.
A versão moderna da HQ, claro, ganha ares mais sisudos e personagens mais condizentes com a realidade, embora alguns não escapem dos estereótipos esperados em uma série do gênero. Escrita pelo chefe criativo da Archie Comics, Roberto Aguirre-Sacasa, e com Greg Berlanti como produtor executivo (também produtor de diversas séries adolescentes famosas, como Dawson’s Creek , Everwood e Arrow), a primeira temporada acompanha a vida de Archie Andrews (K.J. Apa), um garoto-prodígio destaque no time de futebol da escola, mas que nutre uma paixão pela música, contrariando a vontade do pai, Fred Andrews (Luke Perry). Archie recebe apoio de seus amigos, Jughead Jones (Cole Sprouse), o esquisitão da escola e da cidade, Veronica Lodge (Camila Mendes), a garota-problema vinda da cidade grande, e Betty Cooper (Lili Reinhart), melhor amiga de Artie e que esconde uma paixão secreta pelo garoto.
A série começa quando dois irmãos, Jason Blossom (Trevor Stines) e Cheryl Blossom (Madelaine Petsch), entram em um barco e seguem por um rio a fim de executar algum plano misterioso. O barco de repente vira, Cheryl sobrevive, mas o garoto não. Pouco tempo depois de Jason ser declarado desaparecido oficialmente, o corpo do garoto é encontrado na floresta com um tiro na testa. Assim, começa a clássica investigação para saber quem matou Jason, numa cidadezinha pacata onde todo mundo é culpado, até o figurante.
Um dos grandes acertos de Riverdale é não amenizar o clima da série por ela ser baseada em uma história infanto-juvenil. Pelo contrário, algumas cenas são um tanto assustadoras, flertando com o terror de uma forma surpreendentemente eficiente. Outra decisão inteligente é que os personagens ensaiam uma profundidade acima da média, ainda que muitos sofram um pouco de múltiplas personalidades no decorrer dos episódios, algo recorrente em séries com um roteiro não muito bem amarrado.
Algumas cenas são um tanto quanto assustadoras, flertando com o terror de uma forma surpreendentemente eficiente.
O destaque fica por conta de Jughead, de longe o melhor personagem e com um papel decisivo na história, muito mais do que o próprio protagonista. O personagem parece ter sido criado para saciar a sede de telespectadores um pouco mais velhos, já que sua história segue uma linha, digamos, mais adulta, o que dá um peso interessante para a história. Os adultos também exercem um papel decisivo e não se limitam a apenas dar conselhos para os filhos, o que abre a possibilidade de mais segredos e tramas interessantes para a história.
Quem também mantém a série estranha e provocativa é Cheryl, a irmã em luto que busca vingança pela morte do irmão. A personagem e seu núcleo familiar beiram a bizarrice, deixando o público com a pulga atrás da orelha. É com a família de Cheryl que também somos presenteados com cenas relativamente perturbadoras, como a vovó assustadora ou a mãe com olhar assassino.
A interação entre os quatro amigos, além de Cheryl, funciona perfeitamente. Há uma complexidade entre o grupo e verdade suficiente para que nos importemos com o que ocorre com eles. Ainda que lá pela metade da história tudo fique meio exagerado e encham linguiça para apresentar trezentos plot twists que não levam a nada, a série tem ritmo para manter a curiosidade até o último momento.
Riverdale só erra mesmo quando tende a ir para um lado mais novelesco mexicano. Com revelações bombásticas a cada cinco segundos e pistas falsas, fica nítido o desespero dos roteiristas para sustentar o enredo em seus 13 episódios. Todo o argumento envolvendo o assassinato de Jason deixa de ficar interessante lá pelo quarto episódio e nós estamos mais interessados nos draminhas de cada um dos personagens do que na própria história central, que ganha uma revelação bem anticlimática. Há um excesso de informação e situações que são colocadas no roteiro para serem esquecidas logo em seguida. Depois de séries como Veronica Mars, Friday Night Lights e tantas outras produções teens acima da média, não há muitas desculpas para subestimar o público-alvo.
De qualquer forma, Riverdale é excelente no que se propõe, já que carrega uma seriedade muito menos pretensiosa do que outra série adolescente que foi sucesso este ano, e uma leveza capaz de conquistar os corações sedentos por uma produção bem ao estilo Gossip Girl. Vencedora de melhor drama no Teen Choice Awards, o prêmio mais adolescente da face da Terra, Riverdale é um míssil direcionado aos jovens e diverte de maneira satisfatória.