É impossível compreender como as séries de TV chegaram ao patamar que têm hoje sem olhar para a HBO. E diferente do que poderia se imaginar, isso não possui relação apenas com o drama: vale também para o humor. É óbvio que a HBO não é livre de erros – ou de seriados não tão acertados. Mas a nossa sorte é que para cada relativo fracasso como Togetherness, ou fracasso retumbante como The Brink, a HBO produz séries incríveis como Curb Your Enthusiasm, The Comeback, Veep e Silicon Valley.
Em comum, todas fogem do script estereotipado do humor, aquele onde o objetivo é um riso escancarado e efêmero. A última das citadas, Silicon Valley, enfrentou um grande desafio em sua terceira temporada, passada no início deste 2016, o mesmo desafio que Veep enfrentou uns dois anos atrás – e que todas sátiras acabam tendo que encarar.
No caso específico de Silicon Valley, ainda que o universo da tecnologia e da internet seja um campo vasto e que se renova com certa frequência, há sempre o risco do humor soar datado, repetitivo ou até incompreensível para os de fora do circuito. Como a região conhecida como Vale do Silício é recheada de rostos muito jovens, Silicon Valley encontrou a forma de encarar o desafio de permanecer relevante (e cômica) ao criar um choque entre gerações distintas, mas colocando justamente os mais novos no papel de “atrapalhados”.
Mike Judge dosou bem o humor: Silicon Valley fez humor dos gênios tecnológicos idealistas; tripudiou do debate forma x conteúdo; e, claro, questionou o quão realmente inteligentes e geniais são estas pessoas.
Enquanto Richard (Thomas Middleditch) e a Pied Piper terminaram a segunda temporada enfrentando a dura missão de se estruturarem de forma profissional – uma temporada que foi muito melhor em sua segunda metade –, a última temporada de Silicon Valley trouxe o frescor da presença de Stephen Tobolowsky no papel de Jack Barker, contratado pela Raviga para o lugar de CEO da Pied Piper.
Mike Judge dosou bem o humor neste conflito de gerações, e foi além: Silicon Valley fez humor dos gênios tecnológicos idealistas sem recorrer à pessoa de Steve Jobs, aparentemente deixado de lado neste momento; tripudiou do debate forma x conteúdo; e, claro, questionou o quão realmente inteligentes e geniais são estas pessoas, que consideram-se a cereja do bolo.
A terceira temporada também acertou ao dar maior palanque aos seus coadjuvantes, o que corrigiu uma certa falha da última temporada e manteve Richard aceitável ao longo dos 10 episódios. Sim, esse segue sendo o único porém da série. Richard ainda é um personagem previsível, irritante e exageradamente inseguro. Em contrapartida, Gilfoyle (Martin Starr), Dinesh (Kumail Nanjiani), Nelson (Josh Brener) e Jared (Zach Woods) acrescentaram doses de humor constantes, enquanto Erlich (T.J. Miller) segue comandando o show, sendo responsável pelas cenas mais hilárias e por apresentar o plot twist mais improvável da série até agora. É por essas que Miller tornou-se queridinho de Hollywood, além de único indicado em premiações até o presente momento por sua atuação.
Olhando para Silicon Valley conseguimos compreender como o humor feito na HBO moldou o cenário que permitiu que Unbreakable Kimmy Schmidt, Parks and Recreation e The Office fossem sucesso de crítica e público e elevassem o nível do comicidade televisiva. Ponto para eles; melhor para nós.