Por Bruna Bottin*, especial para Escotilha
Kurt Sutter, criador de Sons of Anarchy, buscou em Hamlet, o clássico de Shakespeare, a inspiração para a trama central do seu drama: traição familiar. Conforme os anos foram passando, essa característica que complementava a identidade da produção foi sendo abandonada, forçando a série a seguir outros rumos (não menos trágicos). O motivo é simples – e já foi abordado aqui pelo José Picelli: a ganância das emissoras em sugar o máximo de audiência possível de uma única série.
A história se passa na fictícia cidade de Charming, no estado da California, onde um grupo diversificado de motociclistas fazem parte do SAMCRO (sigla para Sons of Anarchy Motorcycle Club, Redwood Original). Liderados pelo ganancioso Clay Morrow (Ron Perlman), ao lado do vice-presidente Jax Teller (Charlie Hunnam), protagonista da série, os Sons of Anarchy são os responsáveis pelo contrabando de armas em todo o oeste dos Estados Unidos.
O ponto de partida do drama é o momento em que Teller tem um reencontro com seu falecido pai. Ele descobre um manuscrito que narra a decadência do clube, que um dia já foi movido pelo idealismo de liberdade, mas que claramente foi redirecionado por Clay para a busca de poder. A partir disso, temos diversos desdobramentos: o conflito constante entre Jax e Clay sobre o caminho que o clube deve tomar, a verdade por trás da morte de John Teller (pai de Jax), e o jogo de manipulação entre todos, sem exceção.
A violência foi um dos principais temas da série, sendo abordada praticamente como um mal necessário entre todos. Apesar disso, Sons of Anarchy dedicou-se a humanizar seus personagens. Difícil encontrar outra produção capaz de apresentar tantos anti-heróis cativantes como a série do canal norte-americano FX. A narrativa sempre entregava alguma justificativa para os atos de extrema agressividade e criminalidade.
A violência foi um dos principais temas da série, sendo abordada praticamente como um mal necessário entre todos.
Mesmo sendo uma história dominada por homens, o roteiro soube trabalhar muito bem as duas principais personagens femininas: Gemma Teller (Katey Sagal), a matriarca da família, e Tara Knowles (Maggie Siff), sua sucessora. Duas mulheres incrivelmente fortes e inteligentes, que impunham respeito em um meio extremamente machista, e que foram capazes de articular grandes decisões que afetavam a todos.
Outro ponto importante da série são as road trips. Sendo uma produção centrada em um grupo de motociclistas, Kurt Sutter deu muito destaque para as cenas de viagem, ação e perseguição sob duas rodas. A trilha sonora acompanhou perfeitamente o grupo desbravando a estrada. Não só as melodias funcionavam muito bem com a situação, mas principalmente as letras das músicas escolhidas estavam sempre alinhadas com a narrativa. Enquanto em outras séries as músicas ganham papel secundário, aqui elas assumem uma importância maior. Vale ressaltar a voz de Katey Sagal ao lado da banda The Forest Rangers – responsável por grande parte da trilha sonora.
A caracterização dos personagens foi praticamente a mesma do início ao fim. Os coletes de couro com badges identificando a filiação do clube e posição hierárquica, eram tratados com tanta importância quanto as Harley-Davidson que os personagens pilotavam. Os anéis de Jax também foram outra marca registrada, assim como as tatuagens com o símbolo do clube espalhadas no corpo de praticamente todos os membros.
Com uma produção impecável mantendo o clima de tensão na medida e o roteiro sempre instigante, a atuação do elenco foi o complemento perfeito. O destaque fica para Charlie Hunnam no papel de Jax – personagem que foi evoluindo muito bem do início ao fim – e Katey Sagal como Gemma – a atriz recebeu, com muito mérito, o Emmy de 2010.
Sons of Anarchy fez história com simplicidade, mas sem perder a audácia que reinava entre o clube. Com certeza, é uma série que vale fazer maratona – e o melhor, está disponível na íntegra na Netflix.
* Bruna Bottin é estudante de Relações Públicas na UniRitter, mesmo local onde trabalha como organizadora de eventos acadêmicos, comerciais e corporativos.
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