Para os desconhecidos, pode parecer apenas um drama entediante sobre uma dona de casa que é obrigada a se jogar no mercado de trabalho para sustentar o casal de filhos adolescentes após a prisão de seu marido, Procurador Geral do Estado de Illinois, envolvido em escândalo sexual com prostitutas. Mas bastou apenas alguns episódios para The Good Wife se mostrar muito além do que um simples drama procedural enlatado da TV aberta americana. Prestes a encerrar sua sexta temporada, a série se dá a liberdade de fazer uma pausa no ritmo frenético em que vinha desenvolvendo suas tramas nos últimos dois anos para contemplar o quanto evoluiu nos últimos tempos.
Dias após ser coagida a renunciar o cargo de Procuradora Geral de Justiça (que apunhalada nas costas, amigos!) e acabar se desvencilhando de sua própria firma (resultado de uma lastimável falha de comunicação no episódio anterior), Alicia Florrick recebe uma ligação de Brett Tatro, um antigo cliente de 2009, suplicando por sua ajuda, pois seu caso acabara de ser reaberto. Ao lado de Cary Agos, Alicia havia o representado na até então Stern, Lockhart & Gardner, enquanto ainda eram meros novatos no escritório, livrando-o da acusação de tentativa de homicídio. Mas agora, com a morte da vítima da suposta agreção, o rapaz será julgado sob novas acusações apresentadas pelo promotor Matan Brody, figurinha carimbada da série que não dava as caras a um bom tempo.
Esgotada dos recentes acontecimentos e frustrada por ser o foco de mais um escândalo envolvendo o nome Florrick, Alicia decide acompanhar o julgamento apenas como espectadora, mas sua breve conversa com Matan, que a compara a Peter, faz com que a advogada aceite assumir o caso como uma forma de provar que ela possui valores muitos distintos do marido. O caso em si não é o que faz de Don’t Fail um grande episódio, pois passa longe dos grandes desafios que Alicia encontrou ao longo de sua carreira, como aqueles que envolviam o ricaço acusado de matar suas esposas e namoradas, ou como os vistos mais recentemente, relacionados aos negócios lícitos de Lemond Bishop, o maior traficante de Chicago.
Assim como a série se reinventou há dois anos, essa sexta temporada chega ao fim no próximo domingo com a chance de reformular suas estruturas novamente, se aproximando às origens.
Nessa semana, o que vimos foi exatamente que estávamos acostumados a acompanhar no início da série: uma advogada lutando para que se faça justiça a seus clientes. Uma missão de resgate à “Santa Alicia”, aquela persona tanto mencionada durante sua campanha ao cargo principal da promotoria, porém tão distinta de suas origens. E é justamente esse resgate que faz desse um destaque na temporada. Ao ouvir as fitas com os depoimentos das testemunhas de seis anos atrás, Alicia relembra seus tempos de iniciante, dando conta do quão inexperiente e ingênua era e de como isso moldou sua persona atual. Essa diferença fica ainda mais gritante com a presença de Amber, a advogada iniciante que a auxilia na defesa de Tatro. Amber se assemelha muito à Alicia dos primeiros anos, determinada a seguir as leis à ricas, sem misturar certo e errado. Hoje, ciente das artimanhas políticas e judiciais que à cerca, a advogada experiente raramente se mantém na defensiva, pelo contrário, procura sempre estar um passo a frente dos seus oponentes, certificando-se de que está no controle da situação.
Antes, Alicia era rodeada por colegas de trabalho, tinha uma boa relação com eles e sentia até prazer em sacrificar seus momentos de lazer para ajudar seus clientes (podemos afirmar que, em determinados momentos, as horas extras de trabalho eram os verdadeiros momentos de lazer da advogada). Quando o autor que está desenvolvendo sua biografia lhe pede nomes de amigos para enriquecer sua história, Alicia se da conta de que não há mais ninguém com quem ela possa conversar. Toda essa visita ao passado, somada à estafa emocional em que vive, faz com ela transforme o antigo quarto do filho em seu mais novo home office, que servirá de sede para o novo escritório que decidira abrir.
Apesar de parecer cedo para dar início a uma nova empreitada, afinal, Florrick & Agos iniciou suas atividades há cerca de um ano, Alicia parece estar indo no caminho certo, deixando de lado os grandes magnatas da metrópole, focando em clientes com causas mais humanitárias, vestindo novamente a camisa da Santa Alicia, a boa esposa que conhecemos no início dessa história. E nada mais coerente do que vê-la convidando seu parceiro de bares, o conselheiro Finn Polmar (talvez a figura que mais se aproxima ao papel de amigo na vida da advogada), para embarcar nessa nova jornada .
Assim como a série se reinventou há dois anos, com o surgimento do novo escritório e a triste saída de Will Gardner, essa sexta temporada chega ao fim no próximo domingo com a chance de reformular suas estruturas novamente, se aproximando às origens da série, com os típicos casos da semana, sem deixar de lado as consequências dos recentes escândalos envolvendo a família Florrick. O escritório improvisado já foi montado, basta saber se Finn aceitará o convite para darem início às atividades da Florrick & Polmar.