Gostaria de anunciar aqui a minha conversão ao islandismo. É isso mesmo, estou assumindo que a Islândia, com pouco mais de 300 mil habitantes, é o local ideal para se viver na Terra. Sei lá se o governo é de esquerda ou de direita, o que importa? Dirão que estou exagerando, e devo estar mesmo. Ora, mas é assim com toda paixão! A Islândia, para mim, é o que uma amiga chamou de “crush geográfico”.
Você tem que amar a Islândia. Imaginem que a polícia da Islândia matou uma única pessoa em toda a sua história e que veio a público se desculpar pelo ocorrido. Ah, imagine a polícia do Brasil vindo a público se desculpar de alguma coisa, não precisa nem ser de uma morte, mas uma injustiça qualquer! Quero passar uma temporada na Islândia para saber como é isso, como é que se sente quando não se tem medo de morrer pelo assaltante e nem pela polícia.
Como não amar a Islândia? Imaginem que eles têm a tradição de dar livros como presentes de Natal e passam a noite do dia 24 lendo! L-e-n-d-o! Ah, imagine o brasileiro não apenas dando livros, mas usando a noite de Natal para lê-los! O Natal islandês começa com a divulgação de um catálogo dos livros lançados no final do ano. Gostam muito de ler os islandeses, assim como gostam de escrever: cerca de 10% dos islandeses irão escrever um livro! 10% não vão “ler um livro”, 10% vão ESCREVER um livro.
Vou transcrever a declaração de uma mulher que trabalha com edição de livros na Islândia, e vou transcrever ipsis litteris, para que não pensem que é fruto da minha imaginação muito fértil:
“Quando vou ao cabeleireiro, as mulheres não querem que eu conte fofocas de celebridades, mas recomendações de livros para o Natal”.
Já pensou? Já pensou poder ir ao cabeleireiro sem discutir sobre o Neymar e a Bruna Marquezine? Cortar ao cabelo e falar sobre… Livros! E depois o pessoal ainda diz que é o brasileiro que precisa ser estudado. Quem tem que ser estudado é o islandês, como é possível que alguém viva assim? Que ele seja estudado e, se possível, replicado pelo mundo afora.
E depois o pessoal ainda diz que é o brasileiro que precisa ser estudado. Quem tem que ser estudado é o islandês, como é possível que alguém viva assim? Que ele seja estudado e, se possível, replicado pelo mundo afora.
Lembrem-se do futebol, lembrem-se da bela campanha da Eurocopa, quando eles eliminaram a Inglaterra, lembrem-se do grito viking da torcida e, o mais importante, lembrem-se do goleiro da Islândia que pegou um pênalti do Messi na Copa do Mundo.
Dirão vocês que lá na Islândia se toma muito antidepressivo, e dirão bem, porque é verdade. Não há ninguém mais chegado a um antidepressivo do que um islandês. Ora, mas isso não é um problema para os brasileiros, pois, ao contrário da imagem que o senso comum tem de nós, somos deprimidíssimos, somos os campeões de depressão na América Latina. Um povo acostumado à depressão como o islandês, por certo, terá muitas estratégias ainda não tentadas pelos brasileiros para lidar com esse grave problema.
A Islândia erradicou o analfabetismo ainda no século XVII (d-e-z-e-s-s-e-t-e). Na Islândia, é proibido mulher ter salário inferior. Na Islândia a diversidade é incentivada e a criança é educada sem estereótipos de gênero. 85% da matriz energética é renovável. É frio, mas já inventaram as blusas e os sistemas de aquecimento doméstico. Pô, e tem a aurora boreal!
Ah, é verdade que a minha paixão pelo país teve um certo abalo quando soube que por lá tem temporada de caça às baleias… É uma daquelas coisas que a gente espera mudar nos parceiros. Eu te amo, Islândia, mas chega de matar baleias! Porque se não, se não eu… bem, se não eu vou te trocar pela Estônia, o país mais introvertido do mundo.
Beijo, crush.