Lançado pela editora Companhia das Letras, A glória e seu cortejo de horrores é uma obra escrita pela atriz e escritora Fernanda Torres. A obra é o terceiro livro lançado pela autora, que já publicou os títulos Fim, seu primeiro romance, e Sete anos, obra que reúne crônicas que foram publicadas em revistas e jornais. Atualmente, Fernanda é colunista da Folha de São Paulo, da Veja Rio e também é colaboradora da revista Piauí.
Na primeira parte do livro, escrito em primeira pessoa, o leitor já descobre, no início, que o título é, na verdade, um “presente” da mãe da autora, a atriz Fernanda Montenegro. Entre alguns depoimentos, em entrevistas para veículos de mídia a atriz já apontou que a frase foi dita por sua mãe, que sempre a atentava: “É a glória e seu cortejo de horrores, Fernanda”.
O romance narra a vida de Mario Cardoso, ator de meia idade, que experimenta o sucesso e as derrocadas da profissão. O livro que não é segmentado necessariamente por capítulos: apresenta logo na primeira parte da obra a cena que dá o tom de toda a narrativa: o desastre de uma encenação de Rei Lear, tragédia teatral de William Shakespeare.
O pano de fundo de A Glória e seu cortejo de horrores é o Brasil dos anos 60. A história que se passa em grande parte, na cidade do Rio de Janeiro, narra em conjunto com a história do ator e o teatro, as configurações políticas da época. As peças de cunho político cultural frente ao regime repressivo da Ditadura Militar (1964-85), contexto social, a incursão no Cinema Novo o e sistema capitalista selvagem da época podem ser percebidos ao longo da trama à medida que o personagem desenvolve sua história.
A obra, que faz rir, também causa reflexão sobre os atos atuais de censura à arte e ao teatro.
“[…] Nem sempre foi assim. Nos anos 70, quando ingressei na televisão, Jacarepaguá, Engenho de Dentro, Del Castilho, Inhaúma, Pilares e Bonsucesso ainda guardavam a lembrança da vida rural, dos quintais com pomar, horta, galinha e cachorro. Mas cimentaram tudo, a periferia inteira; cortaram as árvores e transformaram a vielas singelas em vias engarrafadas de mão dupla, onde o fumacê dos ônibus encarde paredes e muros, cobrindo de fuligem as praças, onde, antes, se jogava cartas, porrinha e futefol […]” (Trecho de A glória e seu cortejo de horrores, p. 155)
Passando por montagens de peças de nomes aclamados pela história do teatro mundial, como Tchékhov, Plínio Marcos e Brecht, Fernanda reúne uma história que perpassa uma geração de artistas que viu sua trajetória artística do teatro e cinema se subverter para o sistema corrosivo do mercado e da indústria. Do sucesso ao fracasso profissional, a história de Mário Cardoso (personagem principal) é contada com doses de melancolia e muito humor. As passagens e descompassos com alguns familiares do personagem também são descritos e expostos de forma implacável na obra.
Apesar do desastre das encenações de Rei Lear no Rio de Janeiro e em São Paulo, e as críticas contundentes da imprensa, Mário Cardoso também tem momentos expressivos na profissão, mas sempre com percalços intermitentes da profissão. Com um fim quase trágico, a última parte do livro mostra a glória de Mário, que em meio a uma etapa difícil de sua vida, projeta, encena e dirige MacBeth, tragédia consagrada de William Shakespeare, de uma forma não tão convencional.
Fernanda Torres lançou A glória e seu cortejo de horrores em março deste ano em Curitiba, na Livrarias Curitiba. No evento, ela leu alguns trechos do livro para o público, respondeu perguntas e autografou a obra. Em meio a algumas perguntas, Fernanda relatou que um dos pensamentos centrais em escrever a obra era para resgatar como era o teatro de antes e a potência que a profissão tinha na vida dos artistas. A obra, que faz rir, também causa reflexão sobre os atos atuais de censura à arte e ao teatro.
A GLÓRIA E SEU CORTEJO DE HORRORES | Fernanda Torres
Editora: Companhia das Letras;
Tamanho: 216 págs.;
Lançamento: Novembro, 2017.