A caça de búfalos em determinadas partes dos Estados Unidos foi tão importante quanto a corrida do ouro. Muitos homens largavam suas vidas cômodas, e estáveis, em busca de um pouco de aventura e emoção. Em 1870, o aristocrático Will Andrews deixou Harvard para se embrenhar na selva norte-americana e explorar o interior do seu país e também de si mesmo.
Butcher’s Crossing (Rádio Londres, 335 páginas), de John Williams, autor do magnífico Stoner (leia aqui a resenha), é retrato de um tempo audaz é perigoso. Como em Walden, de Thoreau, o personagem de Williams declara sua independência gritando contra as normas que regem a sociedade e contra o formalismo que norteia as relações humanas. Butcher’s Crossing é uma cidade no Kansas, um local ainda em desenvolvimento e que vive à espera da ferrovia. Lá, Will Andrews precisa redescobrir o sentido de estar vivo.
John Williams cria um faroeste habilidoso, bem construído – capaz de capturar o leitor pela forma e pelo conteúdo. Andrews, que recebeu parte da herança de seu pai, e outros três homens parte em uma caçada encabeçada por um sujeito ganancioso e egoísta. O autor coloca suas crias em desafios extremos, deixando o quarteto no limite. Ainda assim, Will permanece forte – talvez o único realmente sereno e consciente do grupo.
O livro funciona como um mergulho na natureza humana, percorrendo os caminhos mais sombrios da alma. Ainda que em nada se pareça com um filme de John Ford e Sergio Leone, Butcher’s Crossing é um autêntico faroeste à moda antiga. Williams estabelece uma paralelo entre a linguagem literária – com o papel como suporte – e o cinema, por isso, não é difícil imaginar o livro em uma bela e cristalina adaptação.
Aos poucos, Will Andrews também está inserido no meio do universo de caçadores, caças e búfalos – uma pequena rede de intrigas e ambição.
Filho pródigo
Will Andrews é como o jovem bíblico que deixa a casa dos pais para descobrir o mundo “lá fora”. Ao contrário das escrituras sagradas, o ex-universitário de John Williams não se sente arrependido: nunca se sentiu tão em casa quanto na cidade de Butcher’s Crossing. Aos poucos, ele também está inserido no meio do universo de caçadores, caças e búfalos – uma pequena rede de intrigas e ambição.
A paixão pela prostituta Francine, que trabalha durante o dia em um saloon, é o que o humaniza, o coloca novamente em contato com sua essência mais pacata. Williams cria um tecido trincado, elaborado e no qual os fios se conectam levando o leitor pela mão.
A capacidade de manipulação, no bom sentido, influenciou muito escritores, entre eles o britânico Ian McEwan, um dos grandes narradores de nossa época. Butcher’s Crossing é seu Reparação, uma verdadeira obra-prima.
BUTCHER’S CROSSING | John Williams
Editora: Rádio Londres;
Tradução: Alexandre Barbosa de Souza;
Tamanho: 336 págs.;
Lançamento: Março, 2016.