A forma visceral como imprime sua escrita faz da obra de Pedro Juan Gutiérrez uma literatura que divide opiniões. Enquanto existem leitores e críticos que se incomodam com suas obras cheias de sexo, suor e rum, há outros tantos que enxergam em suas linhas uma maneira desnudada de transcrever uma Cuba que vive constantemente em nosso imaginário. Difícil encontrar outro país nas Américas que cause tanto fascínio quanto a terra de Pedro Juan.
Na metade de 2016, a Alfaguara publicou a mais recente obra de um dos maiores nomes da literatura latina. Fabián e o Caos chegou carregando uma grande expectativa, já que se trata da obra em que o autor é mais explícito ao abordar as idiossincrasias de Cuba, de Havana e da Revolução comandada por Fidel e Che Guevara.
Acostumados a ter Pedro Juan como norteador das narrativas do escritor cubano, Fabián e o Caos apontou um rumo diferente, em que o personagem divide espaço com Fabián. Assim como em seus outros livros, aqui as experiências de vida de Gutiérrez são ponto de busca por inspiração.
Pedro Juan Gutiérrez amplia deste modo sua própria literatura, lançando outros olhares a esta sociedade que vem há alguns anos escrutinando.
Gutiérrez nos leva de volta aos anos anteriores à Revolução Cubana, mostrando a família de Fabián, cujos pais mudaram da Espanha para Havana em busca de novas oportunidades de vida. O personagem é um fruto indesejado por seu pai, e nasce já com os pais em idade mais avançada. Fabián é o avesso de sua figura paterna: recluso, culto, frágil, medroso e homossexual. Concomitantemente conhecemos a história do jovem Pedro Juan, um hedonista sedutor e insolente que leva uma vida em que o caos é a regra.
A vida destes dois personagens, elementos diametralmente opostos de uma mesma realidade, é unida pelo acaso, em virtude da atribulada política cubana. Entretanto, ainda que sejam polos distintos, Fabián e Pedro Juan têm como unidade o desajuste: seus estilos de vidas estão em desconformidade com os princípios ideológicos da “nova” Cuba. Mas é apenas mais tarde que seus caminhos se cruzam a ponto de uma improvável amizade surgir.
Fábian e o Caos, lançado com tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman, precisa ser compreendido fora de um espectro raso e simplista. Ainda que alguns leitores o tenham compreendido como uma crítica explícita ao regime que comanda a ilha, seu autor parece muito mais interessado em compreender os impactos causados pelo caos do período de transição entre o governo de Fulgêncio Batista e de Fidel Castro. Para isso, expõe uma sociedade conservadora e preconceituosa, em que religião e costumes não são necessariamente afetados pelos princípios ideológicos. Na realidade, a ideologia acaba sendo fruto também desta sociedade.
Pedro Juan Gutiérrez amplia deste modo sua própria literatura, lançando outros olhares a esta sociedade que vem há alguns anos escrutinando. Cabe a nós, leitores e críticos, colocarmos nosso binarismo político de lado para mergulhar profundamente na vida de Pedro Juan e Fabián, de modo a compreender todas as nuances deste regime opressor e libertário.
FABIÁN E O CAOS | Pedro Juan Gutiérrez
Editora: Alfaguara;
Tradução: Paulina Wacht / Ari Roitman;
Tamanho: 200 págs.;
Lançamento: Julho, 2016.