Vinte anos depois de sua estreia, Meus Queridos Estranhos retornou em nova edição, desta vez lançada pela Companhia das Letras. As obras da escritora carioca Livia Garcia-Roza carregam diferenças entre si, mas um ponto sempre em comum: o conflito. Difícil não enxergar em sua formação como psicóloga e nos anos dedicados à psicanálise a influência que permeia sua prosa.
Meus Queridos Estranhos acompanha a história de uma protagonista que nunca é nomeada, um jogo interessante proposto por Livia Garcia-Roza, que torna a obra identificável por qualquer mulher que leia o livro. Ela, a personagem, é uma musicista que é deixada por Manoel após anos de casamento. Sem muitas explicações, ela passa a viver uma série de dúvidas sobre como será sua vida dali para a frente. Concomitantemente, a personagem enfrenta uma série de embates com a filha adolescente, que se agravam após a repentina morte de seu ex-marido e a possibilidade de que ela viva um novo amor.
Narrado em primeira pessoa, Meus Queridos Estranhos é orquestrado a partir de cenas do cotidiano e de reflexões da narradora-personagem, transitando entre o passado e o presente, convocando o leitor a tornar-se cúmplice dela, seja por suas indagações, seja por seus conflitos.
Ela é uma mulher que vive (como a maioria das mulheres pós-modernas) entre a vida profissional e a dedicação à família, mas que carrega consigo uma infinidade de incertezas e inseguranças. Essas características perpassam a morte de Manoel e atingem os momentos seguintes de sua vida, interferindo em suas relações. A dificuldade da personagem em seguir adiante e esquecer Manoel toma conta de sua rotina e, consequentemente, da narrativa.
Meus Queridos Estranhos acompanha a história de uma protagonista que nunca é nomeada, um jogo interessante proposto por Livia Garcia-Roza, que torna a obra identificável por qualquer mulher que leia o livro.
Isto gera certo incômodo ao longo da leitura, já que sua relação com Xavier, o novo romance, é repleta de momentos pouco críveis. Em alguns trechos, fica a impressão de que se trata mais de um ritual de luto constante do que uma relação saudável entre dois adultos. Algo semelhante ocorre em sua relação com a filha. Parece haver uma certa desconexão entre Mariana (a filha) e narradora-personagem, que possuem laços muito frágeis. Contudo, estes pontos não desvalorizam a obra.
Livia Garcia-Roza é feliz em criar uma obra em que seus conflitos são facilmente identificáveis, pois apontam a convergência de uma mulher que vive, ao mesmo tempo, sua independência e a prisão aos padrões de uma sociedade machista e opressora. Ainda que, por vezes, a personagem soe exageradamente passiva e permissiva, é indiscutível que ela é reflexo do ambiente em que foi criada, tornando Meus Queridos Estranhos uma espécie de autocrítica e desabafo.
MEUS QUERIDOS ESTRANHOS | Livia Garcia-Roza
Editora: Companhia das Letras;
Tamanho: 152 páginas;
Lançamento: Fevereiro, 2017.
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