Uma antologia pessoal, subjetiva e principalmente honesta, em que um autor revisita a própria obra, escolhe alguns de seus trechos favoritos, enquanto busca elaborar uma linguagem tão particular quanto suas opções, com direito a meras conversas fiadas e pequenas doses enciclopédicas. O resultado é O Livro Vermelho do Nêgo Pessoa, coletânea do jornalista curitibano Carlos Alberto Pessôa.
No início, lê-se que este livro é uma seleta de textos de publicações anteriores do autor, acrescidas de trechos do 61 Segundos, programa originalmente veiculado na 97,1 FM. Dispostos em ordem alfabética, os verbetes de Pessoa abordam esporte, prazeres e desgostos individuais, sociedade, política, comportamento e afins, às vezes explicados quase com ar professoral, enquanto outros tópicos recebem abordagens tão impiedosas quanto refinadas.
“É muito raro encontrar dois ou mais brasileiros sem que estejam a desancar o Brasil, os outros brasileiros, as instituições. Este esporte deve ser combatido diuturnamente”, como explicado em Maledicência. “Sou contra o almoço. Pessoas civilizadas não almoçam, merendam […] o almoço brasileiro é contemporâneo de uma sociedade agrária, rural, provinciana, escravocrata. É curiosidade antropológica”, em Contra o Almoço. “Amigos dizem: ‘- Você anda por aí como louco.’ Ando para não ficar louco. A fugir de mim, do velho em mim, da morte que me habita, espreita, espera”, trecho de Pessoais.
Dispostos em ordem alfabética, os verbetes de Pessoa abordam esporte, prazeres e desgostos individuais, sociedade, política, comportamento e afins.
Este trecho é curioso por entregar o autor quanto os tópicos que aborda ou castiga. Em entrevista à Gazeta do Povo, declarou “Uma das prerrogativas do escriba é escrever impunemente sobre tudo o que não sabe; no meu caso, da física quântica ao amor… O meu tema preferido ou aquele em que me sinto mais à vontade? Elementar, Watson: Carlos Alberto Pessôa!”[sic]. O jornalista não é egocêntrico, como uma interpretação carrasca da entrevista e de alguns trechos do livro podem dar a entender, é apenas a maneira dele. É um trabalho extremamente autoral, capaz de informar e até divertir quem acompanhou a carreira dele, e também de aborrecer quem se incomodar com o casório da erudição e da ironia que Carlos Alberto realizou.
Não esconde o gosto por Nelson Rodrigues, a homenagem a Otto Maria Carpeaux e as referências literárias, até imita Jorge Luís Borges, e conta algumas leituras das quais tem orgulho, além de mencionar seus mestres de economia e política – podem servir de ponto de partida. Tampouco dosa o vocabulário quando critica, e aí lê-se descendentes de Caim, pessoas cheias de flatos&fúrias, plágios inconscientes de Rubem Braga na mão de cronistas ruins, pestífero barulho e cancerígena cozinha; além de ocasionais desacertos anunciados como o bode que deu vouvoscontar. A julgar por este Livro Vermelho, sobrarão bodes a serem tratados (ou não).
O LIVRO VERMELHO DO NÊGO PESSOA | Carlos Alberto Pessoa
Editora: Autopublicação;
Tamanho: ?
Lançamento: 2015.
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