Annie Clark quer nos seduzir. E isso é a melhor coisa que ela poderia fazer. O novo álbum do St. Vincent, nome que a artista usa para lançar seus discos, não é tão bom quanto seus antecessores, o que não quer dizer que seja um álbum ruim ou desprezível, pelo contrário. Apenas confirma o papel de destaque da artista no cenário atual.
Lançado há duas semanas, Masseducation [highlight color=”yellow”]reitera o talento já conhecido de Annie Clark como compositora e multi-instrumentista[/highlight], e também como alguém que ainda pensa na identidade visual de seus videoclipes e capas de álbum como se ainda vivêssemos nos anos 80 ou 90. O videoclipe de “Los ageless”, por si só, é uma obra-prima estética e narrativa.
A cada álbum a cantora se metamorfoseia, troca a cor do cabelo e o figurino, de tal maneira que as comparações com David Bowie já se tornaram lugar-comum. Annie Clark, no entanto, não está preocupada com nada disso e sim com se afirmar como uma artista criativa e interessante. Vale a pena mencionar que Annie, para além de ter começado sua carreira na banda de apoio de Sufjan Stevens, também gravou um disco ao lado de David Byrne, o indispensável Love this giant, de 2012.
É também unanimidade afirmar que, a cada álbum, Annie apara as arestas de seu som e se aprofunda como cantora e compositora.
É também unanimidade afirmar que, a cada álbum, Annie apara as arestas de seu som e se aprofunda como cantora e compositora, resultado que não poderia ser diferente em Masseduction. Muito embora seu antecessor ainda seja consistentemente melhor, é difícil não ser arrebatado imediatamente com a leveza e o flerte com o dream pop da faixa de abertura, “Hang on”.
Annie Clark aprendeu ao longo dos anos a explorar seu vocal e a instrumentação eletrônica que explora à exaustão desde seu álbum anterior. A música de trabalho, “Los Ageless”, lançada dia 06 de setembro, junto com o anúncio de que o álbum completo seria disponibilizado em algumas semanas, é explosiva, dançante e um verdadeiro chiclete. A letra, que faz um claro jogo com a cidade de Los Angeles, traz um leve ar de coração partido, sentimento que, aliás, permeia todo o disco (e inevitavelmente faz com que nos questionemos sobre a agitada vida amorosa da artista), somado a um refrão que faz com que seja quase impossível não ficar cantarolando no chuveiro: “How can anybody have you? / How can anybody have you and lose you? / How can anybody have you and lose you / And not lose their minds, too?”.
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Masseduction é, também, um disco plural. Apesar da clara predileção da cantora pelo pop com uma pegada eletrônica um pouco mais intensa, há faixas no conjunto como “Happy Birthday, Johnny”, lenta e suave, e “New York”, que acaba refletindo diretamente em “Los Ageless”. Como se uma faixa representasse a costa oeste e a outra a costa leste, uma sendo solar e enérgica, a outra sendo melancólica e outonal, as duas acabam se completando e fazendo de Masseduction [highlight color=”yellow”]um trabalho ainda mais interessante e de fácil audição.[/highlight] É possível identificar as influências do jazz, do rock e do synthpop, e de uma gama tão variada de estilos quanto possível. Tudo no álbum é plural, polifônico e,apesar disso, coerente com a trajetória que a cantora e compositora vem construindo para si ao longo dos últimos anos.
Annie Clark, de maneira análoga a outras artistas de sua geração, tornou-se necessária. Completa e sem medo de ousar, ela pertence a um conjunto de mulheres, tal como Björk e PJ Harvey, não liga para a opinião alheia e deixa claro que está em busca de sua identidade sonora e que não deve nada a ninguém. Masseduction é mais um passo na consolidação da carreira de Annie Clark, resta agora torcer para uma possível turnê a traga para terras brasileiras novamente.