Em um terreno tão efêmero como o do indie rock, como se manter relevante ao passar dos anos? Poucas bandas conseguiram essa façanha, e a maioria chegou lá graças ao poder de reinvenção. Num geral, já nos acostumamos a ver a nova banda indie do momento lançar bons singles, fazer um bom disco, ganhar hype de revistas como NME e, um ano depois, cair no esquecimento. Quem lembra ainda do Palma Violets, por exemplo, que em 2013 teve “Best of Friends” eleita como música do ano por várias publicações e alguns meses atrás lançou um segundo disco num completo esquecimento? Em um nível de qualidade constante, porém se reinventando ao longo dos anos, os britânicos do Foals acabam de lançar um novo álbum mostrando como seguem relevantes e inovadores numa cena cada vez mais apagada.
O Foals surgiu para o mundo lá por 2006, na época em que o new rave fazia a juventude britânica pirar ao som eletrônico misturado com indie rock de bandas como o Klaxons. Em 2008, o grupo liderado por Yannis Phillippakis lançou Antidotes, um debut feito para tocar em festas, com hits como “Cassius” e “Balloons”. Na sequência, Total Life Forever (2010) mostrou que a banda era muito mais que dançante. A música “Spanish Sahara” marcou a carreira do Foals como o momento em que a banda mostrou que sabia usar música eletrônica, indie rock, math rock e até post-rock instrumental. A transformação seguiu em Holy Fire (2013), que puxava o grupo ainda mais para o math rock e uma variação mais pesada e ruidosa do indie rock, som que agora foi aprimorado e novamente reformado em What Went Down, mais novo trabalho dos britânicos de Oxford.
What Went Down abre mostrando os dentes com a faixa de mesmo nome, com riff cheio de peso e um vocal ecoado de Phillippakis, que vai crescendo até virar um verdadeiro rugido ao fim dos cinco minutos de música. Como se para exibir a habilidade de transformação, a faixa seguinte, “Mountain at My Gates”, vem com mais leveza e batidas que lembram “My Number”, uma das melhores do álbum anterior.
Dá pra sentir que o Foals descartou de vez passar perto do indie rock inofensivo e genérico que faz um novo grupo ‘salvar o rock’ a cada mês.
O disco segue em uma variação consistente, com momentos que trocam guitarras pesadas por batidas harmoniosas como a que carrega a ótima “Albatross”. Por trazer uma mistura complexa de sons, mudanças de velocidade e estrutura, vocais ecoados e lentos ou rápidos e ferozes, o disco foge completamente da raiz dançante que originou o Foals. É tranquilamente o trabalho mais pesado deles até hoje, mesmo nas músicas mais calmas como “London Thunder”. Dá pra sentir que o Foals descartou de vez passar perto do indie rock inofensivo e genérico que faz um novo grupo “salvar o rock” a cada mês.
Ouvi gente dizendo que What Went Down é concorrente para melhor disco do ano. Não é para tanto, mas dá pra entender a euforia ao ver a banda lançar o quarto bom disco consecutivo. O Foals amadureceu cedo com Total Life Forever e aprimorou sem demora o seu próprio som, algo que muitas bandas levam muito mais tempo pra fazer. Ao invés de repetir a fórmula, eles preferem a aventura por novos caminhos. Difícil dizer se melhorou ou piorou, mas mudou e manteve a qualidade.