Desde que apareceu nas paradas com seu primeiro sucesso, Alright, still, em 2006, Lily Allen foi alçada ao patamar de estrela pop de primeira grandeza. Sua canções, fáceis de serem digeridas, não apenas revitalizaram um gênero que passava por um momento pouco inspirado como também traziam uma pitada de personalidade e bom-humor que andava em baixa.
De uns tempos pra cá, Allen teve experiências traumáticas, que foram marcadas com uma cobertura especialmente sensacionalista da imprensa inglesa, experiências essas que incluem sua separação e uma gestação perdida. Claro que esperar sensibilidade do jornalismo britânico talvez tenha sido um pouco demais, mas o intervalo de 4 anos do último álbum da cantora para No Shame, lançado no dia 8 de junho, mostra que ela também buscou suas próprias respostas para os últimos acontecimentos de sua vida.
Em comparação ao que fez a fama da cantora, No Shame não traz nenhum tipo de novidade ou música que sequer tenha potencial para grudar no ouvido, como foi o caso de “Fuck you” anteriormente. Apesar disso, No Shame confirma o que Lily Allen sempre teve de sobra, que é talento como letrista e sua capacidade de aliar simplicidade e sinceridade, como é o caso da faixa que abre o álbum, “Come on then”: “Every night I’m crying/ And even if I died trying/I bet you’d probably quite like it”.
O intervalo de 4 anos do último álbum da cantora para No Shame mostra que ela também buscou suas próprias respostas para os últimos acontecimentos de sua vida.
Respondendo ao tipo de espetacularização que foi feita de sua vida particular, a cantora derrama medos e ansiedades e mostra que não tem vergonha de nada, daí o próprio nome do álbum. Apesar de, no geral, os ritmos dançantes e as batidas eletrônicas não soarem particularmente especiais, as letras possuem uma qualidade ímpar e há, claro, bons momentos, como é o caso de “Family Man”, em que a combinação de batida, piano e instrumentação, somada à voz característica da cantora fazem com que a faixa brilhe em relação ao todo.
O mesmo ocorre com “Apple”, um momento tão suave e doce, que acaba chamando mais atenção do que as faixas mais animadas e dançantes. Na realidade, há uma certa falta de coesão no disco, o que faz com que as músicas mais lentas e melancólicas acabem trazendo à tona os melhores momentos da cantora.
Não é a primeira vez – e infelizmente não será a última – que o sofrimento de uma mulher se torna prato cheio para a mídia. Tampouco será Lily Allen a última a tentar dar um formato diferente para tudo que viveu. Se o produto final não chega a ser tão bom quanto seu álbum de estreia, há sem dúvida bons momentos em No Shame, que justificam a permanência de Lily Allen entre uma das cantoras mais interessantes de sua geração.