Tem coisa mais chata que assistir a um jogo do Barcelona nos últimos anos? Toda aquela troca de passes, bola pra cá, bola pra lá, firula, vai e volta. O famigerado futebol moderno ficou chato, ficou sem graça. Toda a nostalgia envolvida nos bicões do zagueiro Clebão, a raça do jogo feio e pegado, aquela coisa meio segunda divisão do campeonato estadual. Isso que é legal de verdade. Digamos que o Barcelona é a música pop fabricadinha em estúdio, redonda, pronta pra tocar no rádio. Mas o que a gente gosta mesmo é da música torta, é de futebol de várzea.
Mas esse não é um texto sobre futebol, é só para contextualizar o nome de uma das bandas mais legais da nova cena alternativa brasileira. A Não ao Futebol Moderno, diretamente do Rio Grande do Sul com um shoegaze/dream pop da melhor qualidade. Essa cena que cresce tanto nas beiradas da música nacional, com tanta gente boa fazendo um som bacana. Rende até um estudo sobre a influência do Real Estate na juventude brasileira.
Enfim, a Não ao Futebol Moderno lançou há pouco tempo seu primeiro disco, o sensacional Vida Que Segue, pela Umbaduba Records. E de engraçadinho tem só o nome e a atitude dos caras nos shows, porque o som passeia por referências que vão do indie ao shoegaze clássico de Slowdive, Ride e etc, com vozes suaves escondidas atrás da parede de som. As letras juntam uma pegada emo anos 90, com composições curtas e diretas de uma ou duas estrofes, falando sobre o cotidiano jovem e outros dramas da vida. Tudo sem frescuras, de um jeito bem popular, como a faixa “Cansado de Trampar”, a segunda do disco, que inicia uma trinca que compõe a melhor parte do trabalho.
As letras juntam uma pegada emo anos 90, com composições curtas e diretas de uma ou duas estrofes, falando sobre o cotidiano jovem e outros dramas da vida. Tudo sem frescuras.
“Carlinhos” traz um toque dream pop com uma guitarra distorcida no refrão que diz “Nem sempre não ter sentido é ruim, mas eu nem sempre pensei assim”. Na sequência vem “Laços de Família”, que traz uma guitarra mais limpa e vocal ecoado, num estilo de outra banda nova que falei recentemente, a Wolken, ou de uma das referências do shoegaze catarinense, a (saudosa?) Bela Infanta.
Vida Que Segue é um disco bem viciante e transita com fluidez entre o som das guitarras distorcidas com vocais escondidos e as faixas mais limpas, com aquela pegada Real Estate/Mac DeMarco. É um baita registro de estreia, despretensioso na medida certa, criativo e extremamente caprichado, sem se perder em pirações guitarrísticas por muito tempo, com riffs bem legais e boas vozes. Se comparado ao primeiro registro da Não ao Futebol Moderno, o EP Onde Anda Chico Flores (2014), mostra uma saída do 90’s emo em direção ao shoegaze. Não há no disco novo uma faixa como a ótima “2014”, que abre o EP, cheia de referências ao American Football, Braid, Algernon Cadwallader e etc. Dois anos atrás, os vocais da banda tentavam soar angustiados, com alguns gritos, hoje são mais tranquilos. Vale a pena conferir a evolução deles, gostando ou não do futebol moderno.