17 anos atrás, Goiânia ganhava um evento que marcaria toda a região Centro-Oeste do Brasil. Sempre procurando mostrar a multidisciplinaridade da música, o Bananada tornou comum o cruzamento com artes visuais, gastronomia e audiovisual. O festival marcava um espaço necessário fora do eixo Rio-São Paulo na promoção do intercâmbio cultural entre Goiânia, Brasil e o mundo, consolidando o que quatro anos antes havia sido iniciado com outro importantíssimo festival, o Goiânia Noise.
Algo semelhante acontecia com o Abril Pro-Rock, festival que desde 1993 cavou um espaço no calendário musical de Recife e do Brasil na promoção da música independente. Artistas que se consolidariam na música nacional, como Los Hermanos, Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, passaram pelos palcos do festival.
Assim como estes dois, No Ar Coquetel Molotov (Recife, 2004), Porão do Rock (Brasília, 1998) e Demo Sul (Londrina, 2001) criaram formatos de festivais que procuram, cada um à sua maneira, incentivar a produção autoral independente do país. Compreender a importância destes festivais se faz necessário para que haja entendimento da cena autoral contemporânea no Brasil. E qual o charme existente em festivais que lançam olhar diferenciado ao que tangencia o mainstream a ponto de, ano após ano, lotarem seus shows?
O PLANISFÉRIO DE FERNANDO ROSA
Há, sem sombra de dúvidas, uma particularidade nestes eventos, a começar por se valerem do que realmente importa: a música. Música é som e movimento e está sempre em contato com outras formas de cultura expressivas. Está inserida em diversas atividade sociais, ou seja, ela é uma das mais potentes formas de comunicação. Nas palavras de Tiago Pinto, diretor do Instituto Cultural Brasileiro na Alemanha, “ela é manifestação de crenças, de identidades e é universal quanto à sua existência e importância, qualquer que seja a sociedade”. Desta forma, impossível não entender as razões que tornam um festival como o El Mapa de Todos tão importante.
Fernando Rosa, idealizador e responsável pela curadoria do festival, entende bem essa veia comunicacional da música. O El Mapa de Todos, que teve sua primeira edição em 2008 e desde 2011 acontece anualmente, vem ganhando importância como um mecanismo integrador de cultura latina e ibero-americana através da música. Essa, aliás, é a mais pulsante veia deste corpo musical que é o festival. Até por conta disso, a programação das cinco edições já realizadas contaram com artistas que estão dentro desse perfil integrador.
Nomes como os argentinos Babasónicos, El Mato a un Policia Motorizado, os uruguaios El Cuarteto de Nos, Molina y Los Cósmicos, Daniel Viglietti, os colombianos Bomba Estéreo e a chilena Camila Moreno se juntaram ao longo destas cinco edições a grupos e artistas nacionais que tomavam corpo na cena independente ou mesmo já haviam consolidado suas carreiras. Mundo Livre S/A, Boogarins, ruido/mm, Acústicos & Valvulados, Apanhador Só e Bidê ou Balde foram alguns dos nomes brasileiros a compartilharem acordes com a cidade de Porto Alegre, após uma primeira edição em Brasília, em 2008.
Rosa é um nome respeitado no cenário independente brasileiro. Profundo conhecedor de música (e não apenas nacional), Fernando, ou Senhor F, nome de sua produtora, tem grande parcela de responsabilidade no resgate da força da música autoral no Brasil. E essa história vem de longe. Em 1998, criou a Revista Senhor F. De lá para cá, já comandou programas de rádio, a festa Noite Senhor F e o selo Senhor F Discos (em parceria com o músico Philippe Seabra, da Plebe Rude). Essas longas atividades em favor da música lhe renderam um prêmio do MinC por seu trabalho, no ano de 2012.
EL MAPA DE TODOS 2015
Para 2015, os shows do El Mapa de Todos passam a acontecer apenas em teatros. Serão três dias de música (12, 13 e 14 de novembro) que tomarão espaço de teatros importantes na capital gaúcha. O Theatro São Pedro será o responsável por receber a abertura da sexta edição, enquanto a segunda e terceira noite acontecem respectivamente no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e no Teatro do Centro Histórico Cultural da Santa Casa, inaugurado no último ano.
Em entrevista concedida ao portal de jornalismo cultural Nonada, Thiago Piccoli, produtor do El Mapa de Todos, disse que essa mudança foi motivada pelo próprio público, que estaria interessado por locais onde fosse possível sentar para assistir os artistas. “O público estava dando dicas subliminares, dando entender que eles queriam sentar e ver os shows. E não existe lugar melhor que teatro para isso”, disse. “A gente sentiu que isso (a mudança para o teatro) ajudou a mudar o perfil do público, trazendo de volta quem está interessado em consumir música nova”, completou Piccoli.
Como de costume, o processo curatorial foi feito mediante a visita a outros eventos musicais na Colômbia, México e Uruguai, por exemplo, além de um mapeamento virtual de forma a identificar projetos que se enquadrassem no perfil do evento e que tivessem a disponibilidade para estarem em Porto Alegre nos dias do festival.
Dos 11 artistas selecionados, destaque para os brasileiros Vitor Ramil e Lafayette & Os Tremendões. O músico Lafayette é um dos responsáveis pela sonoridade que marcou a Jovem Guarda no Brasil. Wanderlea, Jerry Adriani e Renato e seus Blue Caps são alguns dos artista com quem o pianista trabalhou nos seus mais de 50 anos de carreira. O ska jazzístico dos peruanos do Vieja Skina, as milongas roqueiras dos uruguaios do Milongas Extremas e a buena onda dos argentinos da Onda Vaga são sons a se prestar muita atenção.
SERVIÇO
Festival El Mapa de Todos
Atrações: Vieja Skina (Peru); Lafayette & Os Tremendões; Milongas Extremas (Uruguai); Vitor Ramil; Onda Vaga (Argentina); Os Irmãos Carrilho; Ana Muniz; Francois Peglau (Peru); Alabê Ôni; Los Pirañas (Colômbia); Aluisio Rockembach;
Quando: 12, 13 e 14 de Novembro;
Onde: Theatro São Pedro, Salão de Atos da UFRGS e Teatro do Centro Histórico Cultural da Santa Casa;
Preços e outras informações: http://portal.senhorf.com.br/