Quando Adore Life saiu em janeiro deste ano, a expectativa era imensa. No submundo do mainstream – aquele lugar onde ficam os grupos que já não estão no underground, mas também não atingiram o grande público –, a Savages era uma das melhores coisas surgidas nos últimos anos. Silence Yourself foi um dos grandes discos de 2012: forte, contestador, atraente, sujo e ruidoso.
Criou-se ali um certo culto ao quarteto londrino (ainda que Jehnny Beth seja francesa) e sua energia capaz de aglutinar em um mesmo acorde Siouxsie and the Banshees, Gang of Four e Joy Division. E não há nenhum exagero. Havia política, havia (e ainda há) manifestos, shows enérgicos em que Beth entrava em um universo particular e dançava como se estivesse expurgando tudo que era necessário sair – e estava –, numa atuação meio Ian Curtis.
Poliamor, violência doméstica, o fim do patriarcado. Parecia que Jehnny Beth, Gemma Thompson, Ayse Hassan e Fay Milton queriam dominar o mundo, e talvez quisessem, para a nossa sorte.
A Savages parece manter o controle, enquanto se estabelece como um dos grandes nomes do rock na atualidade.
Mas ao mesmo tempo que havia a expectativa, também havia medo e receio. A energia seria a mesma? A adrenalina estaria a mil? O primeiro play foi suficiente para matar qualquer espécie de temor quanto a isso. Houve manifestos, houve ruídos, houve adrenalina e energia a mil. Obviamente que Adore Life não é um Silence Yourself 2. Enquanto o primeiro soava mais político, este soa mais pessoal, quase como uma coleção de canções de amor, porém, não vistas de forma necessariamente romântica. Na realidade, em Adore Life, o amor é tratado como uma doença, e os ruídos e os riffs soam tão sujos quanto, só que ainda mais altos.
Ele é um registro em que as canções não se destacam tanto, funcionando em conjunto, sem grandes hits ou hinos, diferente do que vimos no primeiro LP em que “Husbands”, “Shut Up” e “She Will” emergiram como hinos perpétuos. As influências continuam encontrando ressonância no que já eram, mas agora saltam aos tímpanos uma veia que recorda bastante à PJ Harvey, Nick Cave e ao pós-punk inglês.
“Adore” é uma anti-balada potente, não obstante seu ritmo seja mais lento, enquanto em “Slowing Down the World” encontramos uma base meio gótica que recorda a sonoridade de Nick Cave. Há muita pólvora no ar, muita tensão, resultado de tratar um tema tão popular e próximo de forma tão incomum, capaz de flertar com o ouvinte (“Sad Person”), colocar em perspectiva as confusões do amor (“T.I.W.Y.G”), a luxúria e o ciúme (“The Answer”) e até a descoberta sexual (“Mechanics”).
A Savages parece manter o controle, enquanto se estabelece como um dos grandes nomes do rock na atualidade, oferecendo uma sonoridade mais viva, mais próxima e mais alta. Com essa intensidade, onde é que elas irão parar? Quem viver, verá.