Hoje vamos falar de uma dupla (a um só tempo) excêntrica e fofa: Sean Lennon (sim, o filho de John Lennon e Yoko Ono) e sua namorada, Charlotte Kemp Muhl. Sean possui três álbuns solo, além de participação em discos de vários artistas (Albert Hammond Jr., Cibo Matto, Plastic Ono Band) como produtor musical. Embora ainda recaia sobre o rapaz o poder do sobrenome, Sean Lennon tem desenvolvido uma carreira musical bastante interessante e seguindo referências distintas, em boa parte fugindo da acessibilidade do mainstream. Charlotte, por sua vez, é modelo envolvida em campanhas de grandes empresas de moda, escritora (o nome da banda vem de um conto escrito por ela) e multi-instrumentista.
A ideia de ambos com o The Ghost Of A Saber Tooth Tiger era criar um conceito musical que os agradasse, mas também acabou servindo como uma forma do casal passar mais tempo próximos. No entanto, a dupla não está apenas para celebrar o amor, pois desde 2010 lá se vão dois discos lançados: Acoustic Sessions (outubro de 2010) e Midnight Sun (2014). Enquanto o primeiro é mais orgânico – tanto no que se refere ao método de gravação e arranjos -, Midnight Sun oferece uma proposta musical mais arrojada, elevando o projeto da dupla a um patamar estético-musical bastante diversificado.
O segundo álbum da dupla (Midnight Sun) foi produzido por Sean, Charlotte e Dave Fridmann – que já trabalhou com Tame Impala, Flaming Lips, Spoon e tantos outros. O interessante é observar o quanto Fridmann foi importante no processo de produção para fazer a dupla soar “moderna”: uma das referências mais importantes de 2010 para cá é o dream pop psicodélico do Tame Impala, fonte que a dupla parece ter “bebido” para este novo disco. Outras referências já vinham do álbum anterior da dupla e já apareciam na carreira solo de Sean Lennon: o rock psicodélico, elementos de bossa nova e um pequeno flerte com o hard rock.
Como proposta estética, é interessante observar que há um clima soturno/sombrio inserido nas músicas do The Ghost Of A Saber Tooth Tiger.
Como proposta estética, é interessante observar que há um clima soturno/sombrio inserido nas músicas do The Ghost Of A Saber Tooth Tiger. Esta intenção estética não chega a ser “repulsiva” para o público que degusta a arte da dupla: ao invés de deixar os ouvintes com receio, os atrai. Neste ponto, podemos fazer uma associação da música da dupla com os filmes de Tim Burton, que também segue uma linha estética do gótico, do excêntrico, do “estranho” aos olhos comuns, mas que são aceitáveis e cultuados pelo grande público. Qualquer música de Midnight Sun pode figurar na trilha sonora dos próximos filmes do diretor.
Enfim, trata-se de uma projeto interessante para se conhecer, que não só concentra seus esforços em criar músicas excêntricas, mas sim em criar uma atmosfera musical, uma linguagem distinta, que procura transitar para além da música. Além de músicos, o casal também consegue transitar por outras esferas de arte e da vida, o que propicia a eles maior interação e possibilidade de criar o novo. A psicodelia e a excentricidade para além da música (sem esquecer-se dela), eis o que pretende o The Ghost Of A Saber Tooth Tiger.