2009 foi um ano importante dentro da música indie que se manteve em ebulição e inovadora até o começo da segunda década do século. Oito anos atrás, o Animal Collective lançou Merriweather Post Pavilion, The Horrors lançou Primary Colours, Arctic Monkeys o Humbug, Phoenix o Wolfgang Amadeus Phoenix, Grizzly Bear o Veckatimest e por aí vai. A música indie era o local das melhores novidades na música, do folk ao experimental, mas – como quase tudo na música – foi uma fase. Dessas bandas que listei acima, poucas lançaram trabalhos relevantes nos últimos anos ou conseguiram superar suas obras lá de 2009.
Eis então uma banda que surgiu naquele ano e que não ficou congelada no tempo e espaço. Oito anos atrás, o The xx lançou seu disco de debut, xx (2009), uma das obras mais aclamadas dessa safra indie e um dos maiores destaques da música britânica na década. Uma espécie de dubstep com clima eletrônico etéreo e calmo, vozes sensuais sussurradas, linhas de baixo incríveis e uma atmosfera única os tornaram o trio mais legal da música recente. Quase cinco anos depois de lançarem o segundo disco, Coexist (2012), os londrinos começaram 2017 com um novo disco que mantém a relevância da banda dentro do contexto atual.
Não é que a banda trocou a sua essência para soar como a música que faz sucesso no momento, pelo contrário, adicionou ao seu estilo uma série de novas referências
Basicamente, o The xx mudou e se adaptou com o passar do tempo. Não é que a banda trocou a sua essência para soar como a música que faz sucesso no momento, pelo contrário, adicionou ao seu estilo uma série de novas referências e mostrou que há, sim, um período de quase uma década entre o primeiro disco e o novo trabalho e que o mundo girou. I See You, o terceiro disco de estúdio do The xx, já é o primeiro grande lançamento da música em 2017.
É de Jamie xx, o produtor responsável por toda a parte eletrônica e batidas das canções, que vem a alma do novo álbum. Fora do The xx, foi ele quem mais se manteve ativo nos últimos anos produzindo e compondo, o que acabou resultando no disco solo In Colour, lançado em 2015. E é desse trabalho que surgem várias inspirações para as canções de I See You, com batidas que vão das mais sensuais e tradicionais do trio, como em “A Violent Noise”, às mais dançantes de “Lips”, “Dangerous” e “On Hold”.
O leque de batidas e melodias criadas por Jamie é maior a cada ano (não é à toa que ele virou um produtor de grande destaque), e neste disco ele aproveita cada faixa para mostrar um pouco do que é capaz. O grande trunfo vem na coesão que ele tem com os outros dois terços do trio: Romy Madley Croft e Oliver Sim. Mais que o clima das canções, o que define o The xx é a união das vozes de Croft e Sim, suaves e sussurradas, sempre em tom perfeito e harmonia beirando a tensão sexual. Jamie sabe quando subir o tom das suas batidas e quando descer a um toque minimalista e dar espaço para os dois vocais brilharem. Sabe, também, unir a tudo isso as linhas de baixo de Oliver Sim que aparecem desde os primeiros registros da banda (é só lembrar de “Intro”, um dos destaques do primeiro disco). Aqui, a faixa “Replica” é uma das que melhor representa essa união de música eletrônica, instrumento e voz.
https://www.youtube.com/watch?v=ZvGxChn59nQ
O The xx ainda é uma banda perfeccionista. Eles nasceram tocando em casa, mas nunca fizeram som de garagem. Tudo na música do trio é calculado aos mínimos detalhes e trabalhado a ponto de lapidar esses três jovens brilhantes e talentosíssimos. Jamie xx fez boas canções em seu disco solo, mas é ao lado de Romy e Oliver que ele se completa. Tudo vira um, cada nota conversa com os três, cada palavra cantada na voz marcante de Oliver contrasta e, ao mesmo tempo, completa as sílabas suaves de Romy. Parece que não vai fazer sentido, mas tudo ainda parece empacotado quando Jamie solta um sample ou uma batida afro no meio desse clima. É a mágica que o The xx parece que nasceu sabendo fazer e vem atualizando.